Tudo tem limite: não detone sua saúde mental só para satisfazer os outros

Fabiano F.

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Tudo tem limite. Um dia a ficha cai e percebemos que não dá mais para continuar no olho do furacão, agir como estamos agindo, ou vivendo em determinada situação. Esgotamos nosso emocional com excesso de pensamentos, decisões, obrigações, ruminação do passado e ansiedade pelo futuro. Aos poucos, a ausência de limites detona a saúde física e mental e nos joga para a periferia da própria vida.

A falta de habilidade para dizer não traz sérias consequências, embora relutemos em aceitar nossa parcela de responsabilidade. A permissividade descontrolada traz todo tipo de dissabores que se pode experimentar ao longo da vida. Se aprendêssemos desde cedo a traçar limites, a vida poderia ser bem diferente. E entenda-se por limite a linha divisória do que é aceitável e saudável entre aquilo que sufoca, agride e custa a paz mental.

Você já parou para pensar que boa parte dos problemas vem da falta de limites? Falou o que não devia, ouviu o que não queria, gastou mais do que podia, calou-se mais do que deveria… É extensa a lista de situações que configuram o rompimento das próprias fronteiras. O medo de não ser amado, o horror de ser ignorado, e a “obrigação” de agradar o tempo todo contribuem para que deixemos as pessoas ultrapassarem nossos limites. Quão diferente seriam as relações se houvesse bom senso suficiente para respeitar as próprias vontades e não romper as barreiras do limite alheio.

Quando não colocamos limites, forçamos o corpo e a mente a ir além mesmo sem condições. A sobrecarga que o mundo contemporâneo embute no cotidiano nos distancia de nossas reais necessidades, levando ao adoecimento físico e mental. Ficamos muito mais focados naquilo que queremos ser do que o que já somos. Acabamos pautando a vida pela verdade do outro, rompendo os limites pessoais. O sufocamento da liberdade e ausência de recursos por longos períodos acabam criando um comportamento de excessos quando a independência chega desacompanhada da maturidade. Assim, os limites são exaustivamente testados e rompidos, provocando estragos de todo tipo.

Reconhecer os próprios limites é primordial. É mais dono de si quem tem clareza sobre os limites físicos, afetivos, financeiros e, principalmente, éticos e morais. Um sinal que começamos a nos conscientizar que é preciso respeitar os limites é quando passamos a entender que tudo tem um começo, meio e fim. Limitar nada mais é do que fazer acordos. Primeiro, um acordo consigo e depois possíveis acordos com o mundo ao redor.

É preciso ter coragem para fazer perguntas cujas respostas podem mudar todo o curso da vida: devo investir nessa relação? Vale mesmo a pena seguir adiante neste projeto? Estou verdadeiramente realizado neste emprego? Cheguei ao meu limite nestas áreas ou ainda não estou certo do que é realmente importante? Demora para chegar neste nível. Vai um bom tempo, e um bocado de decepções, para perceber as sutilezas entre um extremo e outro. E também é preciso perspicácia para compreender que ter limites não significa ser limitado.

Limites estabelecem tempo, quantidade, intensidade, fronteiras; diferente de limitação, que sequer autoriza a experimentação. Muito melhor ser alguém que testou e passou dos limites, reconheceu e aprendeu com suas próprias pernas, do que quem nunca se arriscou e preferiu o pobre conforto da limitação. Que tenhamos limites, porém sem ser limitados.

 

Fabiano F. é jornalista e autor de livros de autodesenvolvimento, como o livro “Enfrente”, de onde este texto foi extraído. Email: fabianoescritor@gmail.com

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V12 - 2019 | Nº 78
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