O Sintoma

Por causa da pandemia do coronavírus, ouvimos intermitantemente falar de sintoma no mundo inteiro. E também por consequência do vírus, muitos conselhos, teorias, opiniões de médicos e governantes enchem as nossas “caixas de mensagens” que chegam via internet. Algumas mensagens são úteis e verdadeiras, outras falsas e um tanto ao quanto ridículas.

Mensagens e posicionamentos que podem ser otimistas, pessimistas, religiosas, de encorajamento, orações, e a lista segue grande. Por esse motivo, resolvi escrever sobre o “sintoma”, que de acordo com o minidicionário Aurélio, “é qualquer fenômeno ou mudança provocada no organismo por uma doença, e que permite estabelecer um diagnóstico”. O sintoma psicanaliticamente falando na linguagem freudiana, se origina na repressão inconsciente dos nossos desejos, ou seja o que eu desejo e o que me é permitido pela ética, pelo social e pela religião, diferem. O sintoma seria então uma representação do que está no nosso inconsciente e não encontrou satisfação, sendo inibido pela nossa censura, pelo nosso superego.

Ainda de acordo com Freud, a formação do sintoma se origina da lesão do impulso instintual que foi reprimido inconscientemente. Ele é uma indicação substitutiva de uma gratificação reprimida. O sintoma pode ser descrito também como o resultado do retorno do que foi reprimido, na sua forma original. A compulsão do sintoma reprimido pode ser de caráter negativo, tais como proibições que podem levar a atormentamentos psicológicos gratificantes. O que foi reprimido e recalcado pelos padrões éticos do ego, retorna ao nosso corpo físico como sintoma. Sabemos disso pelos estudos e experiências que Freud chamou de “talking cure,” ou a “cura pela fala”, quando tentava descobrir as neuroses manifestadas pela histeria.

Jaques Lacan, psiquatra francês que retomou os estudos de Freud baseado na Linguística, Lógica Matemática e ainda nos pensamentos de muitos outros filósofos, traz uma explicação muito complicada para os que não são psicanalistas ou estudantes de psicanálise. Lacan, como Freud, argumenta que o sintoma se manifesta na histeria onde  pacientes buscam mais serem escutados do que observados: “o sintoma vai no sentido do reconhecimento do desejo, mas sob uma forma ilegível….ele vai no sentido de um desejo de reconhecimento, mas este desejo permanece excluído, recalcado”, escreve o Dicionário de Psicanálise Freud & Lacan.

Lacan ainda explica o sintoma como “signo de um significante recalcado, ao mesmo tempo que significante de um significado, o trauma que representa o sujeito para outro significante”. Lacan diferencia o sintoma psicológico que aparece no corpo físico, do sintoma médico e o coloca, o sintoma, em uma instância inconsciente do simbólico no real, “o modo como cada um goza do seu inconsciente”, ou seja, a maneira que cada indivíduo encontra de se livrar do que ficou recalcado. Já tinha escrito que compreender Lacan é difícil. Para isso, são necessárias muitas horas, dias, anos de estudo.

Finalizando, informo que Lacan tem um livro inteiro, Seminário O Sintoma, livro 23, com 256 páginas, um dos últimos e mais complexos seminário que Lacan escreveu, sobre a obra de James Joyce (1882-1941.) Joyce foi um escritor irlandês romancista, contista e poeta modernista do século XX, cuja obra mais conhecido é Ulisses. Em uma palestra de Lacan sobre esse Seminário do Sintoma, na Sorbone em 1975, Lacan explica como chegou a essas conclusões. Ou seja, o “sintoma” é causado pela repressão no meu inconsciente entre o que realmente eu desejo e o que me é permitido pela família, religião ou grupo social. Para chegarmos a encontrar os nós (nós, laços) no nosso inconsciente, somente conseguiremos através de um processo psicanalítico, aliás que considero como sendo o melhor investimento que podemos fazer em nós mesmos, para nossa saúde mental: “Conhece-te a ti mesmo”.

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