Desde os primeiros traços na infância, Joe Santos sabia que o desenho era mais que um passatempo. Papel e lápis eram as ferramentas de uma mente criativa, moldada por histórias em quadrinhos, animes e os grandes mestres da arte clássica. Hoje, aos 35 anos, o que começou como brincadeira se tornou um propósito de vida, com obras que ressoam em paredes e muros, transcendem o visual e se tornam resistência, diálogo e transformação social.
“Cresci fascinado pelo mundo das HQs, pelos detalhes e as narrativas visuais. Isso me despertou um olhar curioso, que ainda me guia. Com o tempo, percebi que a arte seria o meio de expressar o que sinto e vejo no mundo”, compartilha Joe, que encontrou nas ruas a tela perfeita para dar voz a suas ideias.
A Arte Como Diálogo com o Cotidiano
Para Joe Santos, o muralismo vai além da técnica ou do simples embelezamento. Cada parede tem uma história, e ele acredita que a arte deve dialogar com o espaço e as pessoas que o habitam. “Eu começo observando. Cada local tem sua história, e a minha arte tenta agregar. É uma troca: recebo inspirações do ambiente e deixo um pouco de mim. Tento criar algo que se adeque ao espaço, que converse com ele. Não adianta sair com uma ideia fechada e perceber que ela não se encaixa. É como um improviso ensaiado”, explica.
Essa abordagem reflete sua crença de que a arte pública precisa ser significativa, mais do que decorativa. Joe busca provocar reflexões, inspirar e devolver algo valioso à comunidade. Suas obras, passeiam por diferentes temas, figuras humanas e referências culturais, são um tributo ao cotidiano e à essência das pessoas e lugares que retrata.
“Minha arte é sobre as coisas simples que muitas vezes ignoramos. Fala de pertencimento, das raízes e das histórias que moldam quem somos”, relata Joe.
Do Medo à Liberdade Criativa
A trajetória de Joe Santos, como a de muitos artistas, teve desafios. Seguir uma carreira artística era incerto e envolvia lidar com expectativas externas e internas. “O maior obstáculo para o artista é o medo. Medo de falhar, de não agradar ou de não conseguir viver do que ama. Mas é libertador quando você se desapega disso e foca em ser verdadeiro com sua arte”, reflete.
Hoje, essa autenticidade é o alicerce de seu trabalho. Para ele, muralismo é mais do que pintar muros; é oferecer às cidades e seus moradores uma forma de expressão coletiva. “Uma pintura na rua é um presente. É acessível a todos, sem barreiras. Pode tocar o coração de quem está apenas passando ou de quem mora ali. É mágico e transforma o caos urbano em poesia visual”.
A Rua como Galeria Inclusiva
Joe Santos acredita que a arte urbana tem um papel único na democratização da cultura. Nas ruas, não existem ingressos, nem filtros sociais. Qualquer um pode se conectar à mensagem de uma obra. “A arte urbana é universal. Ela fala com todos, independentemente de classe ou formação. É inclusiva por essência”, pontua. Entretanto, ele também destaca os desafios enfrentados pelo muralismo em tempos de crescente comercialização do espaço público.
O Futuro do Muralismo: Cultura e Transformação Social
Para Joe, o muralismo é uma ferramenta poderosa de mudança. Ele acredita que as pinturas podem ressignificar espaços, inspirar autoestima e fortalecer identidades culturais, especialmente em comunidades marginalizadas.
“Quando você pinta um lugar esquecido, está dizendo: ‘Vocês importam, suas histórias importam’. É uma forma de resistência e de reescrever narrativas”, afirma.
Joe visualiza cidades onde a arte integra o dia a dia, conectando pessoas e ideias. “Uma parede pode ser mais que concreto; pode guardar memórias, cultura e esperança”.
Com pinceladas de cor e propósito, Joe Santos continua sua jornada de contribuir com as ruas como uma galeria a céu aberto. Em cada obra, ele deixa um fragmento de si enquanto absorve o que o mundo lhe oferece. No dinamismo da vida urbana, ele encontra a tela ideal para expressar uma arte que é livre, acessível e profundamente humana.