No Brasil de 2025, uma musa de maiô, com voz sedutora e bordões ensaiados, vem conquistando fãs, seguidores — e até patrocinadores — sem jamais ter existido. Marisa Maiô é uma personagem criada integralmente por inteligência artificial. Não tem CPF, não dá entrevista, não tropeça no supermercado. Mas nas redes, parece mais real do que muita gente de verdade.
O “programa”, que simula um cotidiano banal de praia, dieta e flertes, capturou a atenção de milhares de pessoas. A estética é de reality show; o roteiro, construído para gerar identificação; os diálogos, roteirizados com precisão algorítmica. Tudo milimetricamente pensado para viralizar — e conseguiu.
O caso reacende um debate urgente: até onde a IA pode moldar o que chamamos de realidade? Num tempo em que a imagem tem mais peso que o conteúdo, Marisa mostrou que a fronteira entre o real e o artificial não só está borrada — ela praticamente evaporou.
Se por um lado, o projeto escancarou o risco da manipulação e da crença cega naquilo que consumimos on-line, por outro, abriu espaço para refletirmos sobre as potências criativas da IA. Com poucos recursos e boas ferramentas, foi possível criar um “reality” inteiro, com estética profissional e narrativa envolvente. Um experimento que mostra como a tecnologia pode democratizar a produção audiovisual e amplificar a criatividade de quem tem boas ideias.
Mas e quando isso for usado para enganar de verdade? Para forjar testemunhos, manipular opiniões, influenciar eleições, arruinar reputações? Quem será responsabilizado? O criador do conteúdo? A ferramenta? A plataforma que distribui e monetiza?
A discussão não pode se limitar à autoria. Envolve também as plataformas digitais, que distribuem conteúdos artificiais sem qualquer aviso, checagem ou contexto. Que lucram com engajamento — mesmo quando ele vem da desinformação. E nos leva a uma pergunta cada vez mais urgente: até onde vai a liberdade criativa — e onde começa a responsabilidade regulatória?
Marisa Maiô pode ser apenas o começo. O que virá depois dela depende da ética, da regulação — e, sobretudo, da nossa capacidade de duvidar. Porque, em tempos de inteligência artificial, talvez o maior sinal de inteligência humana seja saber perguntar: “Isso é real mesmo?”