PAGUEI A LÍNGUA

Manoela Maia McGovern

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Não existe mãe perfeita. Não importa se você largou a carreira para cuidar dos filhos, se você deu apenas uma pausa no trabalho, se nunca trabalhou fora de casa, se ainda não terminou a faculdade, ou até mesmo se faz malabarismo tentando coordenar duas ou várias dessas coisas ao mesmo tempo. A questão é que todas querem exatamente a mesma coisa, que os filhos sejam bem cuidados, amados e sejam muito, mas muito felizes. O que elas não sabiam é que junto com a maternidade vinha um pacote surpresa chamado “sociedade”, e ele vem recheado de julgamentos e cobranças que tentam fazer a gente se sentir culpada, questionando se o que a gente faz é o suficiente ou é o que as pessoas esperam que a gente faça.

Não existe certo e errado, existe o que funciona para você. E muitas vezes o que funciona para a “fulana”, não funciona para a “beltrana”. Cada um faz o que quer e cria os filhos da maneira que quer. Quando eu ainda não era mãe eu achava que as mulheres que ficavam em casa cuidando dos filhos não faziam muita coisa. “Não sei porque elas reclamam tanto, passam o dia em casa”, eu pensava. E se arrependimento matasse pelos julgamentos que eu fiz mentalmente, eu já estaria “mortinha da silva”. Paguei a língua feio! Não só por constatar que não era bem assim o “babado”, mas por não ter conseguido voltar ao mercado de trabalho. Eu não tive estrutura emocional para me separar do meu filho e por isso, acabei nem tentando. Não estou julgando que fez, longe de mim fazer isso. O fato das pessoas terem prioridades diferentes das minhas não quer dizer que elas sejam menos importantes. Várias amigas tiveram que voltar para os empregos e, eu vi de perto o quanto elas sofreram. E as que não sofreram, não precisam se culpar por isso, hein? A gente não consegue ganhar nunca, não é? De um lado tem gente se lamentando e se culpando porque teve que voltar a trabalhar e, com isso não consegue passar tempo suficiente com o filho. E do outro, gente que deixou a carreira de lado, apesar de saber que mais tarde seria difícil se recolocar novamente o mercado de trabalho, mas pelo menos fazendo o que mais queria que é ficar perto do filho por 24 horas, 7 dias da semana.

É muito comum as pessoas terem opinião sobre as coisas, pessoas e o comportamento delas, mas é preciso ter cautela e fazer isso sem julgamentos. E eu só entendi isso depois que virei mãe. Eu não só descobri que a maternidade é uma tarefa difícil, seja ela qual for a circunstância, como também recebi a maior lição da minha vida: aprendi a ter empatia pelas mães. As pessoas têm as suas limitações e diferentes habilidades. E não é porque eu tive um dia mais organizado que isso queira dizer que sou uma mãe melhor do que outra. Já tive dias de querer me trancar no armário e chorar de exaustão, frustração… e isso é completamente compreensível porque somos seres humanos com sentimentos e falhas. Como também tive aqueles dias em que eu imaginei como teria sido a minha vida se eu não tivesse me afastado do mercado de trabalho. Como vocês podem perceber não existe cenário ideal, não é? E já estou eu de novo me colocando em uma situação imaginária que a gente tende a achar que teria sido melhor.

Bom, só informando para quem não sabe que as mães donas de casa não ficam em casa o dia todo de pernas para o ar sem fazer absolutamente nada, elas na verdade trabalham! Chocante, não é? Sim! Elas trabalham! E muitas das vezes desde a hora que acordam, até a hora que vão dormir sem intervalo para o almoço. E falando em almoço, na maioria das vezes acontece do filho querer ir ao banheiro antes delas darem a primeira garfada. Seja em casa ou no restaurante, não importa o local, elas sempre vão comer a refeição fria. E quando é a vez delas fazerem as necessidades fisiológicas, alguém vai bater na porta pedindo alguma coisa desesperadamente como se fosse uma emergência. E se a porta estiver aberta, como é na maioria das vezes, uma plateia surge como um passo de mágica e fixa rapidamente o olhar na figura materna enquanto tentam escalar as pernas para sentar no colo e dar aquele “apoio moral” quando o que mais queríamos era estar sozinhas.

Não precisamos repetir o que já sabemos, que a maternidade é mágica, sensacional, que coisas incríveis acontecem e que ter a chance de criar um filho é uma benção. É tanto amor que nem cabe no meu peito, acho que vou ter até que implantar um terceiro peito no meu corpo para dar conta do recado. Piadas à parte, eu não consigo imaginar a minha vida sem os meus filhos, mas isso não quer dizer que não possa admitir que também é um papel exaustivo. Não precisamos comemorar quando as crianças finalmente vão para cama, mas podemos assumir (mentalmente e sem culpa) que aquele silêncio quando todos vão dormir é mais valioso do que qualquer salário. E sobre as mães que trabalham fora, aliás, todas trabalham. Só que umas, além de trabalhar em casa, precisam lidar com os chefes que nem sempre são compreensíveis quando o filho está com febre e você precisa tirar o dia de folga. Portanto, não importa se o nosso trabalho é dentro ou fora de casa, não existe mãe que não trabalha. O que existe é a mãe que não dorme o suficiente, mas que ama os filhos do mesmo jeito, independentemente se passa o dia no escritório ou não, e que está sempre tentando dar o seu melhor. Vamos para de sentir culpa, dar as mãos umas às outras, ter empatia e deixar o julgamento de lado porque isso não vai fazer do mundo um lugar melhor.

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