Léo Lins foi condenado a mais de oito anos de prisão por piadas com conteúdo discriminatório. O caso virou trending topic, pauta de jornais e combustível para debates inflamados sobre liberdade de expressão, censura e os tais limites do humor — que há muito tempo vêm sendo testados, provocados, ignorados.
Para quem acompanha os passos do humorista, a sentença não chega a surpreender. Lins já tinha sido advertido diversas vezes. Já havia perdido o emprego, sido “cancelado” na internet e envolvido em polêmicas. Mas escolheu seguir na mesma toada: escorando-se no discurso do politicamente incorreto, fez da ofensa uma marca registrada. Foi esticando a corda, acreditando que a gargalhada bastava para justificar o golpe.
Desta vez, não bastou. A Justiça Federal entendeu que o que ele chamou de piada era, na verdade, discurso de ódio disfarçado de comédia. Baseou-se numa lei de 2023 que reforça o combate ao racismo e à discriminação, inclusive no ambiente artístico. O Ministério Público apontou que seu show — gravado e publicado nas redes — não poupava ninguém: fazia piadas com pessoas com deficiência, crianças em tratamento oncológico, negros, indígenas e nordestinos.
A reação foi imediata. Juristas, políticos e comentaristas dividiram opiniões. De um lado, muitos humoristas e parlamentares liberais acusaram a sentença de ferir a liberdade de expressão e classificaram a decisão como um retrocesso. De outro, advogadas, defensores de direitos humanos e artistas reforçaram que liberdade nenhuma é desculpa para humilhar o outro — e que o humor também deve evoluir com os tempos.
Porque os tempos mudaram. E ainda que resistam os que sentem saudades de quando tudo era permitido em nome da “piada”, é preciso admitir que, sim, há novos parâmetros em curso. Racismo não é engraçado. Misoginia não é provocação inteligente. Capacitismo não é coragem cômica. É violência, pura e simples — ainda que vestida de riso.
A liberdade de expressão é um valor essencial numa democracia. Mas não é absoluta, nem ilimitada. Como qualquer direito, carrega consigo deveres. E um deles é o de não atravessar a dignidade do outro em nome da plateia.
O caso Léo Lins expõe mais do que os limites do humor — escancara os limites da convivência. A velha desculpa do “não foi por mal” ou “era só uma piada” já não serve mais. O país ainda aprende, entre tropeços e avanços, que respeito não é censura. É civilidade.
E talvez o caminho para esse aprendizado siga mesmo por trilhas estreitas, incômodas, difíceis. Porque é nessas passagens apertadas que a sociedade testa sua maturidade. E onde cada um precisa aprender, de vez, o que pode — e o que não pode — dizer em voz alta.