O privilégio do envelhecimento

Zenita Almeida

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Envelhecer é um processo inevitável, porém envelhecimento da alma é algo que cabe a cada uma de nós. Por mais forte que sejamos, todos nós temos momentos de fragilidade. Isso acontece em mais diversos momentos da nossa vida: seja uma doença grave, uma perda de pessoas que amamos, uma perda do emprego, em fim….

Uma amiga me falou que ao completar 60 anos entrou num processo de medo, pânico achando que a morte estava mais próximo e decidiu procurar uma psicóloga para uma terapia. Expondo suas queixas pela idade e, expondo seu medo sobre sua aproximação com a morte, psicóloga deu como sugestão para ela observar, se possível, na porta de um cemitério, o número de pessoas jovem que morre todos os dias.

Envelhecer é um privilégio negado a muitos. A vida certamente não tem prazo de validade, ou dia marcado, portanto, cabe a nós ficar pensando na morte ou viver seus grandes sonhos que não conseguiu, porque existem sonhos que só se alcança com o passar dos anos. Vitoriosa! Kuttiyama, uma senhora indiana de 104 anos que mora no estado indiano de Kerala, sempre teve o sonho de ler estudar, quatro anos após se tornar centenário, ela finalmente conseguiu frequentar um programa de alfabetização do governo e sua dedicação ao aprendizado viralizou em todo o mundo após uma publicação da BBC.

Ela observou as aulas dos netos e leu várias vezes os livros que recebeu de professoras que conheceu. Depois de tanto esforço veio o resultado: ela conseguiu 89 de 100 pontos na prova oficial de alfabetização indiana.

Temos que agradecer pela oportunidade de estar viva sem neura, cada dia podemos compartilhar momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e construir com nossa presença um mundo melhor. Existem pessoas com tanta neura da idade, que tem raiva até no dia do aniversário. Fazer aniversário deveria ser um motivo de alegria, pela oportunidade de celebrar cada minuto que a vida lhe deu para aproveitar tudo que surgem no dia após dia. Acumular juventude é uma arte que consiste em fazer com que seja mais importante a vida dos anos do que os anos de vida.

Abaixo, eu quero dividir com vocês esse texto de José Saramago que eu amo.

QUANTOS ANOS TENHO?

Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.

Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.

Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.

Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.

 José Saramago

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