Vivemos tempos em que o controle é vendido como sinônimo de sucesso, poder e segurança. Acreditamos — ou queremos acreditar — que, se planejarmos o suficiente, se fizermos as escolhas certas, se estivermos sempre alertas, conseguiremos garantir que tudo saia do jeito que queremos. Mas a realidade, como a vida gosta de nos lembrar, raramente segue nossos roteiros.
A ideia de que temos controle sobre as situações e as pessoas é uma ilusão. Uma ilusão perigosa, porque é dela que nasce grande parte da nossa ansiedade, frustração e sofrimento. Queremos que os outros se comportem como achamos que deveriam. Queremos que as coisas aconteçam no nosso tempo. E, quando isso não acontece — e quase nunca acontece — nos sentimos derrotados, irritados, impotentes.
O controle, paradoxalmente, nos aprisiona. Ao tentar controlar tudo e todos, nos tornamos rígidos. Perdemos a capacidade de escutar, de fluir, de improvisar. Tornamo-nos intransigentes com os outros e cruéis conosco. Tentamos moldar o mundo à força, ao invés de aprendermos a dançar com ele.
Essa necessidade de controle está muitas vezes enraizada no medo. Medo do desconhecido, da dor, do fracasso, da rejeição. Ao tentar controlar, acreditamos que podemos evitar o sofrimento. Mas o que conseguimos, na verdade, é nos afastar da vida como ela é: impermanente, imprevisível, cheia de surpresas — boas e ruins.
Então, como se libertar dessa armadilha?
Antes de tudo, é preciso reconhecer quando estamos sendo movidos pelo impulso de controlar. Observar nossos pensamentos e atitudes. Estamos tentando mudar alguém que não quer mudar? Estamos insistindo para que as coisas sejam diferentes do que são? Estamos nos punindo por não conseguirmos “dar conta de tudo”?
Depois, é necessário cultivar a aceitação. Não confunda aceitação com passividade. Aceitar é olhar para a realidade sem brigar com ela. É entender que não controlamos o que acontece, mas podemos escolher como reagimos. Aceitar é abrir espaço para a vida, com tudo o que ela traz.
Por fim, vale praticar o desapego. Soltar o desejo de garantir um resultado específico. Soltar a necessidade de aprovação. Soltar a ideia de que há um único caminho certo. Às vezes, ao soltar, abrimos espaço para o novo. Para o inesperado. Para o que realmente importa.
Controlar é exaustivo. Viver, confiar e acolher o que vem — isso sim, é libertador.
Fabiano F. é jornalista e autor de livros de autodesenvolvimento, como “Agora Vai” e “Enfrente”. Email: fabianoescritor@gmail.com