Não faça pelos outros aquilo que eles próprios podem (e devem) fazer por si

Fabiano F.

Atitude

Repare: muitas vezes, a melhor maneira de ajudar alguém é justamente não ajudando. Isso porque o apoio só funciona para quem está aberto e tem a humildade de aceitá-lo para realmente mudar e não ficar na dependência eterna. Infelizmente, há pessoas que não querem sair do papel de vítimas, pois nele têm ganhos secundários, sendo a atenção o principal deles.

Parte considerável dos problemas de relacionamento está ligada ao fato de uma das partes querer insistentemente ajudar a outra a mudar, a pensar diferente, a fazer tudo de outra forma, mesmo sem sua real permissão e vontade. Para algumas relações, a ajuda se transforma no único elo e pode chegar a ser um mecanismo de controle.

Quantas e quantas vezes ajudamos uma pessoa, sem perguntar se ela realmente quer e precisa da nossa ajuda, e depois lá na frente cobramos tudo de volta na mesma moeda? Quantas vezes ultrapassamos nossos próprios limites físicos, mentais e materiais para ajudar quem na verdade não está nem aí para uma mudança verdadeira?

Vejo muita gente entrando de cabeça nos problemas dos outros na tentativa de ajudá-los, enquanto eles próprios precisariam se debruçar sobre seus desafios. Seria uma fuga? Seria achar que podemos mudar o mundo sem sequer ter a coragem de mudar algo em nós mesmos?

Seja solidário, continue ajudando, mas leve em conta que auxiliar o outro pode ter inúmeras conotações. A mais nobre é um suporte genuíno somente naquilo que a outra pessoa não enxerga ou não está conseguindo fazer por vias próprias. No entanto, perceba se está ultrapassando essa barreira e ajudando o outro somente para impor seu ponto de vista, para se sentir útil ou mesmo para ficar por cima. É claro que todos esses sentimentos são velados e não podemos generalizá-los como intenção maldade.

Mas preste atenção: ajudar demasiadamente outra  pessoa pode tirar dela a oportunidade de aprender por si própria, vivenciar situações, e de enxergar as coisas como elas realmente são, mesmo que para isso seja necessário ter uma dose de decepção, frustração e esforço. Pais que superprotegem os filhos, amigos que se doam ao ponto de se intrometer na vida do outro, ilustres desconhecidos que em pouco tempo de convivência se comprometem sem bases sólidas de uma relação… Todos estão sujeitos a interferir no livre-arbítrio da outra pessoa.

Comece a observar para onde você destina seus esforços. Quem você ajuda quer e precisa realmente ser ajudado? A ajuda que você oferece tem limites claros para vocês ou chega a prejudicá-lo? E mais: você ajuda de forma eficiente ou tem perdido seu tempo? A solidariedade é um tema bastante complexo, porque mexe em valores pessoais, culturais e até religiosos.

Para algumas pessoas, ajuda é ajuda e ponto! No entanto, precisamos ficar atentos às motivações que nos regem. Se vai ajudar alguém, abra de verdade o coração, não espere nada em troca e perceba até onde sua dedicação tem valor efetivo para o outro. Tome cuidado para não tirar proveito das fraquezas e incertezas de quem precisa ser ajudado. Com respeito e bom senso todos saem ganhando.

Fabiano F. é jornalista e autor de livros de autodesenvolvimento, como o “Enfrente”, de onde este texto foi extraído. Email: fabianoescritor@gmail.com

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V12 - 2019 | Nº 78
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