Maternidade e as coisas que não me contaram

Manoela Maia McGovern

maceio2019

As pessoas que ainda não tiveram filhos não fazem ideia do quão essencial é conversar com quem já tem. Ninguém me contou o quanto a minha vida ia mudar, e nem como eu teria que administrar certas situações.

 

A gente nasce, cresce, vira adolescente e acha que já sabe de tudo. Que já temos tudo planejado, que sabemos a idade certa para realizarmos os nossos sonhos, e romantizamos acreditando que as coisas vão acontecer facilmente, sem surpresas e do jeito que a gente vê nos filmes. Mas todo mundo sabe que não é bem assim. Especialmente quando o assunto é a maternidade. Vou me referir a criação dos filhos como a maternidade, porque sou mãe e é a única coisa que tenho experiência, mas homens, fiquem a vontade para se identificar com o assunto. Afinal, tem muito pai que vale mais do que duas mães juntas.

Quando eu tive o meu primeiro filho aos 32 anos, a minha relação com a minha mãe mudou. E mudou para melhor. Eu passei a enxergá-la de outra forma. Comecei a entender situações do passado, a ver que ela tinha razão na maioria das vezes que eu acabei ficando chateada e passei a respeitá-la muito mais por ver todos os perrengues e desafios que ela passou. Ainda mais por toda luta em ter de cuidar e educar 3 filhos sozinha depois que o meu pai faleceu. Comecei a admirá-la mais e dar crédito por tudo que ela fez por mim. Afinal, só sou quem eu sou por causa dela. Portanto, o mérito é todo dela. E também me arrependi muito por todas as vezes que, sem intenção, fiz com que ela se preocupasse comigo quando demorei a voltar da balada, por exemplo. Tudo isso que escrevi aqui não é novidade para ela, porque já falei várias vezes, mas tenho certeza que ela vai adorar ler. Se você ainda não falou para os seus pais, corre lá e agradece por tudo, não custa nada.

E falando em nutrição, nunca culpei a minha mãe por eu ter péssimos hábitos alimentares. Ela fez o melhor que podia com as fontes que ela tinha. Naquela época não existia a facilidade que tem hoje com nutricionistas, médicos e especialistas no assunto falando gratuitamente nas redes sociais. Antes dos meus filhos nascerem eu praticamente não tomava água, me alimentava razoavelmente, mas não me exercitava. Se pudesse voltar no tempo, acho que seria nisso que eu iria investir. Mas como nunca é tarde para adquirir novos hábitos, aprendi a cozinhar e comecei a ter uma noção mais aprofundada sobre nutrição. A paixão apareceu em 2010 quando meu filho mais velho completou 6 meses e eu precisei introduzir as papinhas na alimentação dele. Cheguei até a comprar aquelas industrializadas, orgânicas e práticas, mas bastou eu provar uma delas para desistir de dar a ele. Comecei a ler, lembro que fiquei viciada em pesquisar quais alimentos combinavam com qual. Pegava livros na biblioteca do bairro e tava no supermercado dia sim, dia não para ter certeza que as frutas e verduras estariam as mais frescas possíveis. Confesso que hoje, olhando para trás, acho que exagerei um pouco. Tava bem paranoica no início ao ponto de jogar comida fora, caso ele não acordasse em menos de 1h que eu havia preparado a comida.  E, a maternidade enlouquece a gente a ponto de não perceber que passamos do ponto. Ainda bem que é melhor prevenir do que remediar, né? A minha reeducação alimentar foi um processo demorado, levou 3 anos, mas hoje como muito mais saudável. Não poderia querer que os meus filhos comessem brócolis e tomassem suco verde, se eu não tomasse, não é?

Um ponto que eu só percebi que estava errando foi quando viajei com um casal de amigos e eles chamaram a minha atenção por estar muito preocupada do Daniel cair do pula pula em um resort. Não era nada perigoso, mas eu estava apenas copiando a forma como fui criada. E aí que aparecem os medos herdados. Minha avó sempre foi medrosa, passou para a minha, que me criou assim. Cresci com medo da bola, do cavalo, do brinquedo do parque de diversões. Sempre achava que ia me machucar. E aí quando ela disse: ele vai ficar com medo se notar que você está com medo. Depois disso, parei. Me lembro que ficava quase tendo um infarto quando ele escalava certos brinquedos no playground, mas apenas dizia: Segure firme, filho! E claro, como uma boa mãe paranoica, ficava perto para pegar ele, caso ele caísse. Fui melhorando com o tempo, fazendo terapia, deixando eles se aventurarem. E não é que no final foi a melhor solução? Até hoje em dia faço coisas que jamais achei que fosse fazer, como esquiar, escalar montanhas e pular de precipícios Enfim, aprendi a não ser tão protetora e a lidar com os meus medos e emoções.

E aí ele foi crescendo, o segundo filho veio. E eu comecei a notar que levantar do chão depois de brincar com eles ia ficando cada vez mais difícil. E vi que se eu quisesse participar da vida deles, vê-los crescer e cuidar dos netos (sonho que não vejo a hora), eu teria que cuidar do meu corpo. Graças a Deus eu sempre tive uma genética boa, mas isso fez com que eu me acomodasse e não me exercitasse . Afinal, todo mundo acaba começando por esse motivo, mas daí vê os resultados em relação à saúde e não para mais. Comecei a fazer yoga e correr. Me inscrevi em várias corridas como incentivo e não parei mais. Hoje, com 45 anos, ainda consigo jogar bola com eles, participar de corridas com eles e graças a Deus, ainda consigo segurar o mais novo de nove anos no colo. Sem dúvidas, os meus filhos, sem nem saber, me salvaram e me tornaram uma pessoa melhor.

E para finalizar, se prepare que no momento que você disser que vai ser mãe ou pai, junto com os parabéns vem os conselhos não solicitados. Amigos e familiares se acham no direito de dizer como você deve criar os seus filhos, o que você deve comprar ou não, o que eles devem comer ou não, a hora de  desfraldar, de começar a andar e por aí vai…a lista é enorme. Pela minha vivência, que não é longa, eu diria que seguir o seu instinto é sempre o melhor caminho porque as críticas sempre vão existir e perfeição não existe.

 

ADVERTISE

Nossa Revista

V12 - 2019 | Nº 78
V12 - 2019 | Nº 78

REDES SOCIAIS

Últimas Notícias