Harris e as trabalhadoras domésticas

Heloísa Galvão

Harris

Eu não sei sobre vocês mas eu estou entusiasmada com a indicação de Kamala Harris para concorrer à Presidência da República pelo partido Democrata. Ela é mulher, negra e filha de imigrantes. E apoia o movimento pela dignidade e direitos das trabalhadoras domésticas.

Em 2019, a senadora Kamala Harris (D-CA) e a deputada federal Pramila Jayapal (D-WA) foram co-autoras do projeto-de-lei da Carta de Direitos nacional das trabalhadoras domésticas. Esse projeto foi lançado em Washington, D.C., no verão de 2019, em evento organizado pela Aliança Nacional das Trabalhadoras Domésticas (NDWA). Eu estava lá representando o Grupo Mulher Brasileira (BWG).

A pandemia colocou o projeto na prateleira mas ele foi reintroduzido ano passado  na Congresso pela senadora Kristen Gillibrand, de New York, e pelo senador Ben Ray Luján, do estado de Washintong,  e pela deputada federal Pramila Jayapal.

A Carta Nacional de Direitos das Trabalhadoras Domésticas, a exemplo da Carta de Direitos de Massachusetts que completou 10 anos em junho último, se aprovada, vai assegurar que as tralhadoras domésticas sejam incluídas nas leis trabalhistas e criará novas proteções e meios mais eficazes para assegurar a aplicação dessas leis.

Essa posição já seria uma boa razão para eu apoiar Kamala Harris. Além disso, temos pontos em comum. Também sou mulher, considerada pessoa de cor neste país, sou imigrante e filha de migrantes brasileiros.

Mas o que me toca mais é o fato de Kamala Harris reconhecer a importância de sua mãe, uma cientista indiana que emigrou para os Estados Unidos nos anos 60, em sua vida, na formação da mulher que ela é.

Em janeiro de 2021, em entrevista a CBS News, ela disse, “minha mãe nos ensinou a importância de uma boa educação. Ela nos ensinou o bom e velho valor do trabalho duro. Ela nos ensinou a não deixar ninguém dizer quem você é. Você diz a eles quem você é. Ela nos ensinou não apenas a sonhar, mas a fazer. Ela nos ensinou a acreditar em nosso poder de consertar o que está errado”.

Nisso também eu me identifico com Kamala Harris. Minha mãe foi uma mulher que nunca pediu permissão para fazer o que queria. Trabalhou até os 70 anos e nos ensinou que casamento não era objetivo de vida, que casadas ou não, tínhamos, eu e minha irmã, de ter uma profissão e sermos independentes financeiramente. Ela também foi muito importante na formação de quem sou.

Mulheres como Shyamala Gopalan e Mirtes Correa Santos Galvão foram revolucionárias de suas gerações. Nos anos 50, 60 e até 70 no Brasil e nos Estados Unidos não era muito comum a mulher trabalhar fora e tomar decisões por si. Muito menos era comum que essas mulheres incentivassem suas filhas a ter carreira profissional que não fosse a de professora ou de prendas domésticas.

Eu acho que se eleita, Kamala Harris terá posições diferentes de Biden e da maioria dos homens brancos que governam o mundo e pensam que são donos de tudo, inclusive de nós mulheres.

Termos

Compartilhe

plugins premium WordPress