O artista alagoano transforma vivências, questionamentos e referências em criações disruptivas que dialogam com o universo, a humanidade e a memória
Desde a infância, Diego Barros já traduzia o mundo ao seu redor através do desenho. Aos três anos de idade, seus primeiros traços surgiram de forma espontânea, como uma necessidade instintiva de expressão. No entanto, foi apenas na vida adulta que esse talento ganhou uma nova dimensão, transformando-se em uma jornada profissional e pessoal.
O pontapé inicial aconteceu de maneira inesperada no escritório de sua esposa, Kaká Marinho, que na época ainda era sua namorada, Diego encontrou uma parede com tinta tipo lousa e, impulsionado pelo hábito de desenhar, cobriu o espaço com sua arte. A repercussão veio rapidamente quando Kaká postou o resultado na internet, e amigos próximos começaram a fazer pedidos de ilustrações e pinturas. Esse reconhecimento inicial o levou a criar um perfil no Instagram exclusivamente para divulgar suas criações.
Por trás dessa virada artística, havia também um processo de autodescoberta e superação. Diego enfrentava uma fase difícil marcada pela síndrome do pânico, e pintar se tornou mais do que um ofício: era uma terapia, um refúgio, uma forma de dar ordem ao caos interno. “Desenhar sempre fez parte da minha vida, mas, naquele período, comecei a pintar com mais frequência e a postar no Instagram. O que me motivava era justamente o ato de criar, que funcionava como uma válvula de escape”, relembra. Com o tempo, a arte deixou de ser apenas um instrumento de cura e passou a ocupar um espaço central em sua existência. “Hoje, eu entendo que vim ao mundo para criar. E criar arte!”
A Mente por Trás das Telas: Processo Criativo e Influências
Diego Barros construiu um estilo plural, onde elementos simbólicos, mensagens ocultas (easter eggs) e questionamentos existenciais permeiam cada obra. Seu processo criativo é estruturado em três pilares essenciais:
- Vivências e referências – Filmes, documentários, músicas, notícias e literatura alimentam seu repertório e provocam reflexões sobre a vida, o universo e a humanidade.
- A visualização da ideia – Muitas de suas criações surgem de forma espontânea, como flashes visuais que ele transfere para seus sketchbooks, onde esboça e escreve detalhes sobre a obra antes de iniciá-la.
- A imersão na pintura – O momento de criação é quase ritualístico. No início, os ruídos do cotidiano ainda interferem, mas, conforme a pintura avança, Diego mergulha completamente na tela. “Ali já não sou mais eu quem pinta. Algo toma conta”, descreve.
Suas referências artísticas transitam por diversos movimentos e nomes icônicos. “Sou um grande leitor e sempre estou pesquisando sobre arte e o contexto histórico de cada período”, explica. Entre suas influências, destacam-se Jean-Michel Basquiat, Andy Warhol, Lucian Freud, Banksy e os brasileiros Osgemeos.
Questionamentos e Narrativas Visuais
Mais do que estética, a obra de Diego Barros carrega um forte teor filosófico e narrativo. Seus trabalhos exploram a existência humana, a memória, a identidade e as múltiplas camadas de percepção da realidade. “Minhas obras são questionamentos, ensinamentos, pontos de vista e exemplos de vida. Sempre haverá uma mensagem ali, seja explícita ou nas entrelinhas.”
Dentro desse conceito, ele incorpora pequenos segredos em suas criações. “Sempre tem um easter egg escondido, uma referência sutil, um detalhe para quem olha com atenção. Quero que o público interaja com a arte e descubra esses códigos”, revela.
Explorações Atuais e Novos Projetos
Entre seus projetos recentes, O Astronauta Nu se destaca como uma exposição itinerante que questiona a humanidade, a vida em outros planetas e nossa real importância no universo. “A ideia é provocar reflexões sobre a vastidão do cosmos e o papel insignificante — ou extraordinário — que ocupamos nele”, conta.
Outro grande marco de sua trajetória recente foi a criação do Astrohunny, seu próprio toy art. O desenvolvimento da peça levou quase dois anos, desde a concepção até a prototipagem final, passando por patentes e registros na Biblioteca Nacional. “Sempre quis pintar toys, mas precisava que fosse algo genuinamente meu, com meu DNA e minha história”, destaca.
Além desses projetos individuais, Diego tem planos de aprofundar colaborações com artistas da Ilha do Ferro, um reduto de arte popular em Alagoas. Ele já realizou uma parceria com o artesão Zé Crente, e uma de suas obras ficou exposta no Bar do Macumba, na própria ilha. A ideia é expandir essa conexão e desenvolver novas criações coletivas, valorizando a riqueza cultural local.
A Arte Como Trabalho e Propósito
Para Diego Barros, ser artista é, acima de tudo, um compromisso. “Cada projeto, cada obra, cada exposição eu busco fazer com excelência. Esse é um dos pilares mais importantes para que minha carreira continue crescendo”.
Atualmente, o artista já tem representação fora do Brasil, mas não se apega a rótulos ou métricas de sucesso convencionais. “O fundamental é entender que ser artista é um trabalho. É preciso disciplina, planejamento e uma busca constante por aprimoramento”.
Onde Encontrar e Adquirir as Obras de Diego Barros
Diego centraliza a divulgação de seus trabalhos no Instagram @diego.i.am, onde compartilha processos, novidades e criações. No entanto, ele reforça que, embora a presença digital seja essencial, as conexões reais continuam sendo o alicerce do seu trabalho. “O Instagram é um cartão de visitas, mas a arte acontece mesmo no físico. É no contato direto com as pessoas que ela ganha vida.”
Com uma trajetória que une instinto, pesquisa e experimentação, Diego Barros segue expandindo sua arte para novos territórios, sem perder a essência questionadora que marca cada pincelada. Seu caminho, ao que tudo indica, está apenas começando.