Celular na mão, medo no bolso

Andre Cesar

roubo celular1

Dizemos por aí que o celular já virou uma extensão do corpo — e que até faz ligação, quase como um detalhe. O que antes era sua função primordial se tornou secundário. Hoje, ele é câmera fotográfica, HD portátil, calculadora, GPS, banco e até carteira digital. Tudo ao alcance de um toque. Mas o que nasceu para facilitar a vida virou também um risco crescente no Brasil.

A ameaça é democrática: atinge brasileiros de todas as classes sociais e em todas as regiões — bairros nobres ou periferias. Os ataques são a qualquer hora do dia ou da noite, em áreas isoladas ou na frente das pessoas, que nada podem fazer. Não importa se o aparelho é de última geração ou um modelo básico. Para os criminosos, o valor do dispositivo é apenas parte do interesse. O grande prêmio está nos dados guardados ali: aplicativos bancários, redes sociais, fotos e mensagens. Em segundos, eles acessam contas, realizam transações e causam prejuízos financeiros devastadores.

E o que já era assustador, piorou. As quadrilhas evoluíram em tecnologia e violência. Não são raros os casos em que vítimas são baleadas e até mortas, mesmo sem reagir ao roubo. As cenas captadas por câmeras de segurança se multiplicam em grupos de mensagens e estampam as manchetes diárias.

O Anuário de Segurança Pública revela um dado alarmante: dois celulares são roubados ou furtados por minuto no Brasil. Quem nunca passou por isso, com certeza conhece alguém que já foi vítima — muitas vezes, mais de uma vez. Não por acaso, surgiu o hábito de sair de casa com o “celular do ladrão”: um aparelho simples, limitado a ligações e, no máximo, um aplicativo de mensagens. O smartphone principal, aquele que guarda as contas bancárias e dados sensíveis, fica protegido em casa.

A crescente onda de relatos e violência tem pressionado as autoridades. Em 2023, o Governo Federal lançou o programa Celular Seguro, que permite cadastrar o aparelho para bloqueio rápido em caso de roubo, furto ou perda. O serviço impede o uso do celular, da linha telefônica e de aplicativos bancários, tentando conter os danos financeiros. Mas essa é apenas uma frente de combate. O problema exige integração entre governos federal, estaduais e municipais. É preciso agir não só depois do crime consumado, mas, principalmente, para prevenir que ele aconteça. O que está sendo feito para garantir segurança nas ruas? Para que não sejamos roubados — ou mortos?

Enquanto as soluções definitivas não chegam, o brasileiro vive um malabarismo diário: a necessidade de estar sempre conectado versus o medo constante de se tornar mais um número nas estatísticas que só fazem crescer.