Ela nasceu no município de Capela, estado de Alagoas, a 46,71km de Maceió, com aproximadamente 16 mil habitantes. Sua mãe, uma costureira, é quem fazia suas roupas e também as encomendas das senhoras da sociedade que gostava de se vestir bem, pelas mãos de D. Ivonete.
Maria Perolina Cunha Melo, mais conhecida como Dona Peró, era a bordadeira mais famosa da cidade. Tinha as mãos de fada bordando desenhos incríveis em roupas, panos de pratos e enxovais para as donas de casa. Após se aposentar, Dona Peró decidiu dar aulas particular em sua casa para as meninas, e donas de casa da comunidade que se interessassem aprender o bordado. Dona Ivonete, que só sabia costurar, decidiu também aprender os bordados de Dona Peró, frequentando suas aulas particular aos sábados. Foi nessa época que Luciana conheceu e apaixonou-se pelos bordados e, como sua aluna recebeu grandes ensinamentos. Hoje Luciana lidera uma Associação com mais de 15 costureiras que bordam roupas incríveis, todas com a criatividade dos desenhos ensinados por Dona Peró.
Luciana conta que desde criança sempre teve gosto pela arte. Ainda jovem acompanhava sua mãe nas aulas de Dona Peró e ficava a observar cada ponto dos bordados, se apaixonando cada vez mais pelos desenhos que eram caracterizados pela cultura popular de sua cidade, onde o Nordeste se faz presente.
“Fui crescendo, e decidi aprender pintura na escola de arte com a professora Marinez Bastos, que já havia sido aluna de Dona Peró. Lá aprendi crochê, bordado em ponto de cruz e tantos outros que eu filava das amiguinhas que faziam e não queriam me ensinar. Olhando calada consegui desenvolver o básico e depois eu fui me aperfeiçoado. Marinez se encantou por eu ter aprendido rápido a pintura e, me deu panos de pratos pra pintar e ganhar uns trocadinhos. Desenvolvi minhas habilidades rápido, sempre fui muito criativa e, hoje, além de bordar, eu pinto tecidos e óleo sobre telas. Eu amo tudo que vem da arte, faz parte do meu DNA”, disse.
“Dona Peró foi uma mãe para todas nós que nos interessávamos em aprender seus bordados. Olhar ela bordando era pura emoção. Eu me encantava vendo suas mãos habilidosas e paciente. Minha mãe trazia para casa paninhos bordados e não sabia dar o acabamento e nem fazer os arabescos, em pouco tempo, aprendi tudo com Dona Peró.
Com ela eu tive grandes lições. A nossa admiração era mútua, porque ela percebia a minha desenvoltura na arte de aprender. Fazia questão de me mostrar com detalhes as encomendas das clientes, me explicando cada forma dos pontos. Ela tinha muitas revistas, desenhos em cores, me emprestava as revistas para eu levar pra casa. Aquilo tudo era encantador para mim. Certa vez eu pintei sozinha uma coleção de panos de prato, com detalhes de acabamento. Minha mãe levou para ela ver, tamanho foi a admiração que sentiu quando viu meu trabalho. Todos os sábados eu ia para sua casa, sem hora pra voltar. Naqueles momentos nós batíamos longos papos. Seus conselhos, suas orientações permanecem em mim até hoje. Dona Peró adoeceu em 2007 e faleceu aos 86 anos”, continuou.
“A morte de Dona Peró mexeu muito comigo. Suas lembranças me deixaram inquieta. Após sua morte, comecei um projeto de resgate do bordado à mão na escolinha de artes. Em seguida, veio a design Renata Fontan, pela Secretária do Desenvolvimento do Estado, e juntos desenvolvemos uma coleção onde unia as técnicas do bordado, pintura e crochê. Criei novos desenhos que tivessem identidade do nosso município. Nessa coleção foi dado o nome “Mimos de Dona Peró”, em sua homenagem. Essa coleção foi lançada em um desfile no espaço Pierre Chalita em 2008.
Depois do desfile dessa coleção, percebi as pessoas procurando cada vez mais aprender o bordado, criando novas peças, e mais alunos foram surgindo. Em 2010 fiz um outro desfile na nossa cidade para lançar outra coleção. Dali em diante, percebi a necessidade de criar uma Associação. Em 2012 criei a Associação das Bordadeiras e Costureiras de Capela, com o nome fictício de “Mimos de Dona Peró”. Hoje a Associação é composta por 20 mulheres e dois homens. Seis mulheres costuram e bordam, as demais só bordam. Também temos a Escola Municipal de Artes Perolina Cunha de Melo. Isso caracteriza o nosso respeito e admiração por todo legado que Dona Peró deixou para todos nós”, continuou.
“O Sebrae foi a Luz no nosso caminho. Está conosco desde o início. Nos orientou na importância de uma Associação, nos ajudou a organizar o grupo, trouxe várias capacitações, gestões, associativismo e organização. Também nos orientou em Consultoria no Designer, e Coleções com as tendências de mercado. Fui Presidente da Associação nos quatro primeiros anos. Hoje, sou Lider e criadora dos desenhos e das peças de costura.
Os nossos bordados vêm atravessando fronteiras, o estilista alagoano Antônio Castro, dono da marca “Foz” nacionalmente conhecida, já participou do São Paulo Fashion Week, desfilando suas peças com os desenhos e bordados de Dona Peró. Já bordamos para a famosa estilista alagoana Martha Medeiros, Expomos as nossas peças no Parque Shopping em Maceió, através do projeto Alagoas Feito a Mão, na Casa Nordestesse, na Fenart em Recife, Salão do Artesanato, em Brasília, Fenace, no Ceará, Feira dos Municípios Alagoanos.
Meu novo projeto é ensinar o bordado a todas as mulheres da Zona Rural do município de Capela, sem distinção de escolaridade, idade, cor, gênero, raça. Sei que não é fácil, às vezes bate desânimo. Quando nos destacamos pela ousadia de querer fazer a diferença em um município pequeno, os desafios são gigantes, mais ainda quando somos mulher. Vou continuar levando a nossa ancestralidade mostrando a riqueza cultural do nosso Nordeste, porque nenhum obstáculo será maior que a minha vontade de vencer”, concluiu.
Os produtos são todos bordados á mão. Despachamos para todo Brasil e todos os países, o nosso contato (55) 82 999569066. Acesse @mimosdepero @ludedonapero.
Fotos: Flávio Cansanção & Maceió 40graus