A difícil tarefa de recomeçar

Recomeçar, penso que é uma reflexão necessária para fazermos todos os dias ao despertarmos. O que farei igual ou parecido porque já deu certo e o que farei com o que deu errado, para consertar e recomeçar. E assim, segue-se para a vida, embora reconheçamos que muitas vezes não encontramos motivação para um recomeço fresco, como o azul do céu iluminado pelo sol, ou com a chuva que cai, afastando tudo de ruim. Quando esse recomeço parte da nossa zona de conforto, fica-se com tranquilidade. Difícil é sair dessa zona de conforto para as infinitas possibilidades que o mundo oferece. Penso em como seria difícil, impossível mesmo um recomeço, quando partimos sem bagagem física, como por exemplo, para escaparmos de guerras, enchentes, incêndios, contando apenas conosco mesmos e com nossos valores éticos.

Penso que a primeira experiência de um Recomeço conscientemente lembrada dá-se quando ocorrem mudanças de configuração familiares, ou  talvez quando temos que seguir para um diferente endereço físico. Fica-se muito assustado(a) inseguro(a) ao perceber as discussões em casa entre os familiares. Sem alternativas, segue-se, com o grupo. “Deixa a vida me levar” portanto, diminuímos na maioria das vezes em áreas de convivência e área de lazer, brincadeiras infantis.

Seguem-se os questionamentos. O novo endereço será em uma rua tranquila e também de boa vizinhança? Teremos os rabugentos(as) que envenenam nosso cachorrinho de estimação, com veneno de ratos? Teremos marginais sociais que controlam nossas vidas, hora de saída, de chegada e onde iremos? Inevitavelmente teremos bêbados, drogados, vizinhos que escutam som alto, diferente do que gostamos. O novo endereço será mais perto das nossas escolas, portanto seguiremos todos caminhando, ao invés de usarmos transportes? Também será próximo a um sistema de apoio familiar? Perderemos a convivência com os “colegas e amigos da rua, do nosso mesmo nível social”? E seguem-se as indagações e os sofrimentos imaginários quando ainda não tínhamos idade suficiente para encontrar as respostas. Ficam todos para trás e o coração frustrado, humilhado, despedaçado com o pensamento de que esse recomeço não foi da nossa  escolha.

Incontáveis são as mudanças físicas após a primeira, algumas poucas por nossas escolhas e tantas outras não. De mansinho, vamos nos adaptando e deixando rolar. Ainda a situação pode ficar pior, se mudamos de país, língua, hábitos, clima e religião, repito sem apoio logístico, sem bagagem, às vezes sem dinheiro no sistema. Parece-me que o mundo tem completa rejeição por imigrantes, mas por conveniência, tem medo de falar sobre o assunto e admitir esse sentimento de rejeição e preconceito. Somos, como imigrantes, tratados como indivíduos sem valores, tendo a todo tempo que provar que mudamos para somar, plantar, contribuir e não para usurpar. Sobreviver a todos esses sentimentos negativos é um desafio diário.

Então, recomeçamos com empenho na luta diária, principalmente porque não queremos carregar o fardo de perdedores. Seguimos procurando outras molduras. Agradecendo a Deus pelo “pão nosso de cada dia!” Então, nos perguntamos muitas vezes desesperados o que estamos fazendo nesse novo lugar, o que Deus quer de mim. Tomara que no final, possamos reconhecer que vencemos.

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