Para que isso aconteça temos de enfrentar o medo…

Heloísa Galvão

“O pior momento para mim foi quando me disseram que iam levar meu filho. O segundo pior momento foi quando falei com meu filho pela primeira vez no telefone e ele me perguntou se eu estava indo apanhá-lo e eu tive de dizer que não, ainda não estava na hora”. Lídia Souza atravessou a fronteira com o filho de 9 anos e se entregou à Imigração. Ela fugia de um marido abusivo e temia pela sua vida e a do filho.

“Nunca pensei que seria assim, que iriam me separar do meu filho”. Diego ficou em um centro da família, como a administração Obama batizou estes prédios de detenção, teve varicela e foi isolado mas ninguém informou Lidia. No final de junho, um juiz deu ganho de causa à mãe e mandou que o menino fosse entregue a ela. “Este foi o momento mais feliz da minha vida, quando pude ter meu filho de volta”.

A política de “tolerância zero” do governo federal é ilegal e imoral, desumana e sem qualquer base que a justifique. Pune pessoas que fogem de situações de violência e perigo. O governo, pressionado, anunciou o fim da política de separação  e a reunificação das famílias…. na prisão. Como dizemos no Brasil, “a emenda ficou pior do que o soneto”.

Por lei as famílias não podem ficar detidas por mais de 20 dias, mas na prática o sistema legal norte-americano não está funcionando. O governo criou uma situação dramática e não tem capacidade de resolvê-la ou não tem muito interesse em resolvê-la. Os Estados Unidos são signatários de tratado que garante o direito legal de pessoas pedindo asilo serem ouvidas para  determinar a legitimidade do seu pleito. O atual governo norte-americano nega este direito, estabelecido em lei, e tenta criminalizar a imigração indocumentada.

Segundo Lidia e outras pessoas que ouvimos, as mães brasileiras separadas dos filhos ou presas com eles têm muito medo e preferem não abrir a boca e procurar ajuda. Isso é uma pena porque no caso de Lidia, por exemplo, ajudou bastante quando sua história chegou à mídia. Quanto mais visibilidade, mais proteção a pessoa tem porque as autoridades preferem o anonimato, não gostam de expor seus crimes.

Não há muita esperança, infelizment,e desta situação melhorar rapidamente. Esta é uma luta que temos de enfrentar e ganhar juntas, coletivamente. Eu não tenho dúvida de que a justiça vencerá mas para tanto temos de denunciar, contar nossas histórias, mostrar a cara. O silêncio e a inércia não são opções.

Muita gente não consegue ver uma mudança desta política desumana mas a história está aí para nos mostrar que a injustiça e o mal nunca vencem. E a responsabilidade da luta está na base. Movimentos de revolta e denúncia para mudar governos e políticas injustas só têm legitimidade se forem liderados pelo povo.

Aqui não será diferente. Mas para que isso aconteça temos de enfrentar o medo e acreditar na nossa capacidade de mudar o cenário atual.

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V12 - 2019 | Nº 78
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