Até que a vida nos separe

Atualmente para mim, tempos de reflexões, já que estamos todos em prisão domiciliar por causa da pandemia. Ocorreu-me pensar em relacionamentos em geral e no juramento de “até que a morte nos separe”, quando me parece ser mais exato pensar em: até que a VIDA nos separe.

Sim, porque acredito que nenhum relacionamento é definitivo ou para sempre. De alguma maneira, a vida trazendo várias experiências, expectativas e oportunidades, um dia vai nos separar. E que seja para o nosso próprio bem e crescimento pessoal, uma separação amena, sem ódio ou rancores, uma separação como uma pintura em aquarela, que vai perdendo os tons vividos com o tempo. Difícil sempre será, doído, mas que a separação nos deixe a paz.

Começamos a nos relacionar primeiramente com nossas mães, para seguidamente ampliarmos ou abrirmos nossos corações para outros membros da família como irmãos, avós, primos e tios. Continuamos nosso caminho nos relacionamos com nossos vizinhos, que com alguns temos afinidades e com outros animosidades.

Entramos para a institui, e a lista dos afetos e desafetos segue infindável. Em algum momento, começamos a perder os que amamos e os que temos intolerâncias. Uns por morte, que quando pequenos não entendemos muito bem, embora os esforços dos que amamos falham em explicar com várias figuras de linguagem a razão do porque nos deixaram, fica quase impossível para entender. Só sabemos que nos deixaram e sentimos a dor da perda ou o alívio e a culpa, se não gostamos do que sumiu.

Sempre muito difícil quando nos damos conta que um companheiro de infância mudou de endereço e nós o perdemos definitivamente, principalmente quando mudam de estado ou mesmo de país. Nada que possamos fazer, a não ser sentirmos a dor de um coração aos pedaços. Alguns desses companheiros de infância, os perdemos para sempre não por morte, mas pela impossibilidade de comunicação.

Muitas vezes o que significou uma grande perda para mim, não significou nada ou quase nada para o outro e quando fantasiamos reencontrá-lo, quando conseguimos, o outro já cresceu e tornou-se diferente e muitas vezes indiferente ao nosso afeto. Não sabemos o que propiciou, quando e o motivo que o tornou indiferente, só que a distância nos separou, ficando a doce amargura na nossa memória. Pensamos e gastamos nossos miolos tentando entender onde erramos e, apesar dos esforços, nada compreendemos. É só a VIDA nos separando. E como disse Vinicius de Moraes, “que (tenha sido) seja eterno enquanto dure!”

E as perdas se sucedem. Atualmente, para os mais jovens, realmente não existem tantas tristezas e perdas, porque cria-se um grupo na internet, onde podem saber da vida um do outro e talvez, anualmente, encontrar-se. Para os com mais de 60 anos, essa possibilidade não existia, portanto, aprendemos a lidar com as perdas e as lembranças do que um dia foi um grande afeto, para sempre. E onde estará? Será que ainda vive? Que profissão e trabalho escolheu? Qual era mesmo o sobrenome de família? Éramos tão pequenos, que nem ligávamos para os sobrenomes…

Deixa quieto. Deixa para a fantasia, a procura, e a imaginação. E assim, a vida nos separou para sempre. Sigamos em frente, reconstruindo outros afetos, até que a vida e o tempo nos separe outra vez! 

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