Na coluna anterior tratei do tema da separação entre duas pessoas que se amam e que se uniram em nome desse amor, mas que posteriormente necessitaram de uma separação para o crescimento pessoal e individual. Muitas vezes, no afã de um relacionamento dar certo, de não ter que passar por uma perda da pessoa amada, nos perdemos de nós mesmos. Indivíduos se anulam completamente e inconscientemente, ficando alheios ao seu próprio desejo, tornando-se escravos e afastados de atitudes e pensamentos críticos, acoplando-se e condensando-se inteiramente ao outro. Essa alienação pode acontecer por questões econômicas, sociais, ideológicas ou até mesmo por paixão e grande admiração pelo outro. Na alienação, acontece a diminuição da capacidade do individuo em pensar e agir por si próprio, desvinculado do outro.
A palavra “alienação” vem originalmente do latim, do termo “alienus” e que significa algo que pertence a outra pessoa. Na psicologia, o termo alienação designa os conteúdos reprimidos da consciência e também os estados de despersonalização em que o sentimento e a consciência da realidade se encontram fortemente diminuídos. A alienação também pode ser vista como uma “lavagem cerebral”, considerada uma interferência na formação psicológica da criança. A criança geralmente aceita os pensamentos, os ensinamentos e exemplos vindo da família como algo natural e sem questionar. Na alienação, os indivíduos ficam desapercebidos do seu grau de responsabilidades nas suas escolhas.
Psicologicamente, psicanaliticamente e psiquiatricamente falando, o termo “alienação” não aparece nos trabalhos e na teoria de Freud, mas sim nos trabalhos de Jaques Lacan e outros filósofos. Foi traduzido e usado por filósofos como Hegel e Marx, porém o conceito da palavra na teoria Lacaniana “nao é um acidente….mas uma falha do sujeito. Quando o sujeito fica dividido, alienado de si mesmo e não há escapatória para essa divisão senão um buraco….a verdadeira alienação pertence a ordem do imaginário e a psicose representada é a forma extrema da alienação”.
Considero a “alienação” o oposto do pensamento crítico. O conceito tem muitos usos específicos dependendo da disciplina que o utiliza, mas em geral pode se referir tanto a um estado psicológico pessoal subjetivo, como a um tipo de relação social objetiva. A alienação social é o conceito de pessoas que não se reconhecem participantes das instituições (família, Estado, propriedade, casamento), ficando perdidas entre as atitudes de aceitar tudo passivamente ou se rebelar contra a situação vigente, tornando-se indivíduos que consideram a sociedade como os outros, ficando a criar uma realidade própria, totalmente desvinculada da realidade.
Acredito que da alienação nascem o nazismo, racismo e diversas intolerância religiosas e políticas. É devido a alienação que surgem os grandes líderes, e o perigo é o surgimento de “seguidores” de diferentes seitas religiosas e políticas. Citaria como um grande exemplo da alienação o nazismo, que exterminou tantos indivíduos, começando pelos judeus. Outro exemplo que me ocorre pensar é o da seita religiosa Pentecostal Cristã, uma das maiores tragédias humanitárias, onde morreram 918 pessoas cometendo suicídio coletivo, tomando uma mistura de veneno com ponche de frutas. A seita foi criada por Jim Jones, que se estabeleceu na Guiana, em uma área que foi denominada de Jonestown.
Jim Jones foi o fundador do Templo Popular. Enfim, o termo “alienação” é bastante discutido quando se busca melhorar o comportamento das pessoas. Acredito ser necessário estarmos atentos a nós mesmos, ao nosso inconsciente, nos perguntarmos sempre de onde vem os nossos pensamentos, posições políticas, religiosas e sociais, antes de tomarmos uma posição.
Somos nos mesmas nesses contextos, ou estamos alienados a outros? Sabemos fazer nossas escolhas independents dos pensamentos outros? Sabemos escutar e escolher um lado, isentos das influências dos outros? Onde está a linha de separação entre o que sou, na minha integridade e o outro? Quanto mais soubermos sobre nós mesmos, mais chances teremos de fazer escolhas acertadas.
