Poder paralelo na Faria Lima, coração financeiro do Brasil

Andre Cesar

pf faria lima

A mais recente operação da Polícia Federal, em parceria com outros órgãos de fiscalização, expôs o quanto o crime organizado no Brasil já deixou para trás a imagem do bandido de chinelo na esquina. O PCC, que nasceu dentro dos presídios e ainda controla rotas de drogas e armas, hoje alcança tanto a periferia quanto a avenida Faria Lima, em São Paulo.

A operação Carbono Oculto revelou uma teia formada por fundos de investimento, fintechs e empresas de fachada. O grupo lavava bilhões, ocultando patrimônio e financiando a compra de usinas, portos e postos de combustíveis. A participação incluiu fraudes fiscais em larga escala, importação irregular de insumos químicos para adulteração de combustíveis e até ameaças a empresários para assumir o controle de negócios legítimos. Tudo isso operando sob os radares, explorando brechas do sistema financeiro e estruturas societárias complexas para dificultar investigações.

O diagnóstico é duro: o crime não se infiltrou apenas em setores estratégicos do mercado, como passou a operar com estratégias dignas das maiores corporações. Os recursos desviados, estimados em bilhões, comprometem a cadeia produtiva, causam danos ambientais e colocam em risco os consumidores. O uso de fintechs e mecanismos financeiros inovadores para lavagem de dinheiro evidencia um ponto crítico: o Estado ainda se move mais lentamente do que a velocidade da criminalidade desenvolvida.

Essa profissionalização criminosa exige mais que operações pontuais da polícia. Pede inteligência, integração entre órgãos e, sobretudo, vontade política de enfrentar organizações que já aprenderam a usar engrenagens da economia formal como disfarce.

Quando o dinheiro sujo circula em uma escala tão grande, não é apenas uma polícia que precisa reagir. Governos, empresas e investidores são desafiados a reforçar práticas de compliance, monitoramento e transparência. O recado é claro: o crime organizado não está mais à margem. Ele já está no coração financeiro do país e só correrá contido se o poder público for mais rápido do que o poder paralelo.

 

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