A megaoperação deflagrada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro nesta semana marcou um novo e trágico capítulo na crônica da violência brasileira. Em poucas horas, as ações policiais nos complexos da Penha e do Alemão deixaram oficialmente 64 mortos — entre eles quatro policiais —, mas fontes locais e registros hospitalares indicam que o número real de corpos ultrapassa a centena. As cenas de confronto, com criminosos usando drones, barricadas incendiadas e helicópteros sobrevoando áreas densamente povoadas, transformaram comunidades inteiras em zonas de guerra. O mundo assistiu, estarrecido, à repetição de um enredo conhecido: o Estado matando mais do que protegendo.
O saldo da operação expõe, mais uma vez, o fracasso de uma política de segurança baseada no confronto e na retórica militar. O governador Cláudio Castro alegou “abandono” e cobrou reforço federal, afirmando não ter meios para enfrentar sozinho o crime organizado. O Ministério da Justiça respondeu de imediato, lembrando que todos os pedidos formais do estado vêm sendo atendidos desde 2023, com a presença da Força Nacional e investimentos federais em curso. O ministro Ricardo Lewandowski, pego de surpresa pela operação, afirmou não ter sido sequer comunicado e defendeu um novo pacto federativo pela segurança, com coordenação e planejamento conjunto entre os entes da Federação.
 O choque de versões revela o descompasso crônico entre os governos estadual e federal — e evidencia um problema estrutural: operações improvisadas, sem transparência, sem controle externo e sem estratégia de longo prazo, só alimentam o ciclo da barbárie. Enquanto o poder público disputa narrativas, o resultado concreto é um número crescente de mortos, a descrença da população e a consolidação de territórios sob domínio paralelo.
O choque de versões revela o descompasso crônico entre os governos estadual e federal — e evidencia um problema estrutural: operações improvisadas, sem transparência, sem controle externo e sem estratégia de longo prazo, só alimentam o ciclo da barbárie. Enquanto o poder público disputa narrativas, o resultado concreto é um número crescente de mortos, a descrença da população e a consolidação de territórios sob domínio paralelo.
A reação internacional foi imediata. O Conselho de Direitos Humanos da ONU declarou-se “horrorizado” com a letalidade da ação e cobrou investigações rápidas e independentes. Jornais estrangeiros retrataram o episódio como mais uma prova da crise sistêmica de direitos humanos no Brasil, onde o Estado falha em distinguir combate ao crime de execução sumária. Deputados estaduais e Ministério Público pediram explicações formais. Organizações de direitos humanos exigem responsabilização e transparência.
Mas o Rio, mais uma vez, repete sua tragédia: a cada megaoperação, o mesmo roteiro — números contestados, versões desencontradas, comunidades devastadas e promessas de “mudança” que nunca se cumprem. A barbárie persiste porque o poder público se acostumou a reagir com força bruta a problemas que exigem inteligência, política e reconstrução institucional.
O massacre desta semana não é apenas um erro operacional: é o retrato de um Estado que perdeu o rumo, de governos que não dialogam e de uma sociedade que naturalizou o inaceitável. O mundo cobra respostas. O país assiste, impotente. E o Rio sangra — de novo.
 
								








 
								 
								


