Já nascemos perdedores

Sempre que termino de escrever um texto, já fico pensando no próximo. Às vezes peço ajuda aos meus anjos protetores para que me inspirem a escrever algo que ajude às pessoas. Algo que não sirva apenas para mim e para minha vaidade, mas que sirva de alguma forma para ajudar a abrir os caminhos do entendimento na vida de alguém. Sou muito grata a você que lê e que me ajuda a crescer. Já há algum tempo pensando nas adversidades da vida, cheguei a conclusão de que já nascemos perdedores.

Sim, ao nascermos, saimos do conforto do útero da nossa mãe, onde tudo é provido confortavelmente e sem nenhum esforço nosso. Passamos por um túnel que nos impulsiona para frente sem a nossa permissão, para termos que respirar por nós mesmos. Daí em diante, estaremos por nossa conta e responsabilidade, gradualmente nos tornando independentes mas nem sempre teremos por perto nossa mãe para nos confortar e proteger dos perigos e das dores da vida. Acho que ao nascermos, enfrentamos inconscientemente nossa primeira perda e essa perda terá uma sequência permanente. As perdas são como cicatrizes na nossa memória inconsciente.

A segunda perda vem da separação do seio materno que nos alimenta. Nossa mãe tem uma vida separada da nossa e precisa vivê-la, seja trabalhando pelo “pão de cada dia,” ou com os afazeres domésticos que são muitos. Enquanto bêbes, nos sentimos decepcionados e abandonados. Não temos certeza se nossa mãe, irá retornar quando se ausenta. Não posso esquecer de citar os ensinamento do jogo do Fort-da  freudiano, texto de 1920, contido em “Além do Princípio do Prazer”. O neto de Freud então com 18 meses, brincava com um carretel dentro do berço. A criança tentava superar a ausência momentânea da mãe, jogando o carretel para longe de si e emitindo o som “fort”, e ao retornar o carretel, o bêbe balbuciava alegremente “da”, significando segundo Freud, na sua brincadeira o desaparecimento e reaparecimento da mãe.

Por precisarmos tanto da presença da nossa mãe para nossa sobrevivência, criamos desesperadamente substitutos para essa perda inconsciente. A esse estado ilusório de união com nossa mãe, damos o nome de simbiose. A conexão entre mãe e filho nos ensina a amar, mas também nos ensina a congelar nossos sentimentos ao longo da vida, pela nossa própria sobrevivência emocional para sobrevivermos as perdas.  Acredito que por causa dessa separação inconsciente e inevitável procuramos a vida inteira por alguém como o par perfeito que vai satisfazer as nossas necessidades.

Voltando ao nosso assunto sobre as nossas perdas, elas se repetem sucessivamente ao longo da nossa existência. Qualquer um de nós pode inumerá-las se resolver pensar um pouco. E vejam que não estou falando da perda real e do enfrentamento da morte. Por causa dessas perdas desenvolvemos sentimentos inconscientes de abandono, traição e rejeição, como por exemplo: você me abandonou para cuidar de meu pai, do meu irmão, dos afazeres domésticos, do seu trabalho. Consequentemente desenvolvemos a experiência de ciúmes e desapontamento.

Pelo fato de já nascermos perdedores, lutamos a vida inteira para construir e significar para o mundo. Essa ansiedade em construir nos faz criativos e nos motiva para o progresso. Queremos ser melhores, queremos o aplauso, queremos deixar nossa marca no mundo, não queremos ser substituídos como um dia fomos por nossa mãe, queremos ser únicos. Desenvolvemos estratégias para melhor lidarmos com as separações e perdas, porque no fundo sabemos que já nascemos perdedores, que precisamos ser independentes e que quanto mais desapegados formos, menos sofreremos, porque nossa estadia no mundo é temporária e cada dia que amanhece é menos um em nossas vidas. Portanto, desapegar é obrigatório para crescer!

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