Condenação de Bolsonaro e o cerco de Trump ao Brasil

Andre Cesar

Bolsonaro preso

O Brasil viveu um divisor de águas. Pela primeira vez na história, um ex-presidente da República foi condenado por tentativa de golpe de Estado. Jair Bolsonaro recebeu pena de 27 anos e 3 meses de prisão, junto com aliados centrais da conspiração. A decisão, no entanto, não significa prisão imediata em regime fechado: Bolsonaro permanece em prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica, enquanto exerce seu direito de recurso dentro do próprio Supremo Tribunal Federal. Os recursos disponíveis, como os embargos de declaração, dificilmente alteram o resultado. No terreno político, o destino também está traçado: Bolsonaro ficará afastado das urnas por um período prolongado, tornando inviável qualquer futuro eleitoral.

Mas o caso não se limita ao Brasil. Do outro lado do continente, o governo Trump mantém a pressão, agora de forma ainda mais ruidosa. O país já sofre com tarifas elevadas sobre exportações estratégicas, e a retórica republicana voltou a falar em medidas mais duras, como reação direta à condenação de Bolsonaro.

Esse movimento escancara uma tendência: transformar o Brasil em alvo preferencial para constranger suas instituições, primeiro com medidas econômicas, depois com ameaças políticas. Se novas sanções forem de fato efetivadas, o impacto será profundo — não apenas na economia, mas também na diplomacia de um país que tenta se reposicionar no cenário global.

Dentro do Brasil, a esquerda comemora a sentença do STF como vitória histórica do Estado democrático de direito. A direita, por sua vez, se divide entre denúncias de “perseguição judicial” e tentativas discretas de reconstrução da agenda conservadora sem o peso político de Bolsonaro. No meio dessa disputa, o cerco externo liderado por Trump acrescenta um ingrediente perigoso: a democracia brasileira está sob pressão não apenas de forças internas, mas também da interferência direta de uma potência estrangeira.

A condenação de Bolsonaro, portanto, não fecha um ciclo. Abre outro. O Brasil terá de enfrentar, ao mesmo tempo, os desdobramentos internos da crise institucional e a intensificação das pressões políticas e econômicas externas. Um verdadeiro teste de resistência para a democracia brasileira.

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