Começou oficialmente hoje, em Nova York, a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA 80). O encontro, que se estende de setembro de 2025 a setembro de 2026, tem como tema “Better Together: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos” (“Melhor Juntos: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos”).
Como é tradição desde 1947, o Brasil foi o primeiro país a discursar na tribuna da ONU durante a abertura da “High-Level Week” — semana de alto nível da Assembleia, iniciada hoje, 23 de setembro. Este ano, o momento tem um peso ainda maior: o presidente brasileiro discursou logo antes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou à presidência em janeiro deste ano. A expectativa em torno desse encontro de discursos é grande, sobretudo devido ao recente aumento na tensão diplomática entre os dois países.
Um momento de tensão entre Brasil e EUA
Nas últimas semanas, as relações entre Brasil e Estados Unidos ficaram estremecidas após divergências em votações no Conselho de Segurança da ONU, além de declarações públicas trocadas entre os dois líderes em fóruns internacionais. Temas como a política ambiental, comércio de commodities e o alinhamento do Brasil com países não alinhados têm gerado desconforto em Washington. O discurso do presidente brasileiro foi acompanhado de perto pelos diplomatas e pela imprensa internacional, já que havia expectativa de que ele adotasse um tom conciliador, porém firme, ao reafirmar a soberania nacional e a importância do multilateralismo. Em seguida, Donald Trump subiu ao púlpito, reacendendo as atenções para possíveis indiretas ou respostas ao Brasil, num momento que deve marcar os rumos das relações bilaterais nos próximos meses.
O papel da ONU e o Brasil nos bastidores
A Assembleia Geral da ONU reúne todos os 193 países-membros para debater os grandes desafios globais: mudanças climáticas, desigualdade, segurança, saúde, paz e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Com a alemã Annalena Baerbock presidindo esta 80ª sessão e o Secretário-Geral António Guterres conduzindo os discursos de abertura, o evento promete ser um marco nos esforços diplomáticos globais em tempos de grande polarização política.
Uma brasileira nos bastidores
Este ano, a Assembleia tem para mim um significado ainda maior: é a minha primeira experiência trabalhando diretamente com a ONU. Desde abril, tenho vivido intensamente a preparação do evento, acompanhando os bastidores que a maioria das pessoas nunca vê. É impressionante observar a complexidade da organização: desde a logística para receber delegações de todo o mundo até os detalhes técnicos que garantem que cada discurso, cada reunião e cada encontro paralelo aconteçam com precisão. É um trabalho que exige paciência, atenção aos detalhes e, acima de tudo, espírito de colaboração. Estar nos bastidores de um evento desse porte é, ao mesmo tempo, humilde e inspirador. Humilde porque nos faz perceber a grandeza dos desafios que a ONU enfrenta. Inspirador porque mostra que, mesmo em meio a tantas diferenças, o diálogo e a cooperação internacional continuam sendo possíveis.
Como brasileira que mora em Nova York há quase 20 anos, é emocionante ver o Brasil abrindo a Assembleia mais uma vez — agora com a sensação única de participar, ainda que nos bastidores, desse momento histórico e, especialmente este ano, carregado de significado político global.