Câncer: A peste negra do século XXI?

Atualmente, todo mundo tem um amigo, parente ou conhecido que já teve ou tem câncer. Há 30 anos “aquela doença” (como era chamada) não parecia tão comum. Então, o que está acontecendo nas últimas décadas? A primeira resposta é que estamos vivendo mais anos! Com a cura de boa parte das doenças infecciosas, a população passou a viver mais e foi a vez das doenças cardiovasculares e dos cânceres alcançaram índices mais altos de mortalidade.

A verdade é que se vivermos tempo suficiente, nossas células inevitavelmente sofrerão mudanças que levarão ao desenvolvimento da doença. Por exemplo, o leitor sabia que se todos os homens vivessem até 100 anos, certamente todos teriam câncer de próstata? O câncer é causado por um conjunto de fatores. Como ainda não podemos alterar a parte dos nossos gens que é responsável pelo câncer, cabe-nos controlar a parte ambiental, ou seja, nosso estilo de vida e nosso ambiente físico, social e cultural. Com o passar dos anos as pessoas vem fazendo menos exercícios, andando menos, se tornando cada mais sedentárias, dormindo menos, e consumindo mais produtos industrializados em vez de frutas e vegetais. Se as pessoas passassem a ter uma vida mais saudável, evitando beber demais, fumar, e fazendo mais atividade física, 30% de todos cânceres poderiam ser evitados.

Graças aos enormes avanços científicos recentes, muitos tipos de câncer podem ser diagnosticados precocemente, reduzindo a agressividade necessária para tratamento, a chance de óbito ou levando a cura. Porém, nem todos os cânceres possuem programas de diagnóstico precoce. Por qual motivo? Não há sentido em o governo investir na organização de um programa de rastreamento para um câncer que não apresenta redução na mortalidade quando diagnosticado precocemente. O programa só vale a pena se a chance de morrer pela doença diminuir, ou seja, a chance de cura ou controle da doença precisa ser significativamente relevante.

Estudos apontaram que o custo de um tratamento contra um tumor em seus estágios iniciais pode ser quatro vezes inferior aos gastos que o paciente teria caso a doença esteja em um estágio mais avançado. A Organização Mundial de Saúde recomenda rastreamento para os seguintes cânceres:

– Mama: recomenda-se o rastreamento de câncer de mama bianual por meio de mamografia para mulheres entre 50 e 74 anos;

– Colo de útero: a rotina preconizada no rastreamento brasileiro, assim como nos países desenvolvidos, é a repetição do exame de Papanicolau a cada três anos, após dois exames normais consecutivos no intervalo de um ano;

– Colón e reto: Recomenda-se o rastreamento para o câncer de colón e reto usando pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou signoidoscopia, em adultos entre 50 e 75 anos. A colonoscopia deve ser feita a cada 10 anos depois dos 50. Em casos de história de câncer na família, pode diminuir para 5 anos. Os riscos e os benefícios variam conforme o exame de rastreamento.

Outros tipos de câncer podem também ser diagnosticado precocemente, como os de  próstata, estômago, pele e boca.

Além dos programas de rastreamento, a Organização Mundial de Saúde recomenda estratégias para aumentar o controle do câncer, como investir em fortalecer os serviços públicos e treinar profissionais para incrementar sua capacidade de diagnosticar um tumor. Outra medida é promover campanhas de educação sobre os sintomas do câncer e incentivar pessoas a buscar um médico, caso notem algum sinal ou sintoma da doença.

Portanto, vamos fazer o que está ao nosso alcance: viver com mais saúde, ficar alerta aos sinais que o nosso corpo nos mostra e não ignorar nenhum deles. Procure ajuda, pergunte, pesquise, cuide de você!

* Texto da Epidemiologista, Fernanda A. Silva Michels