Imagine se você dissesse tudo o que pensa? Imagine se colocasse para fora todas as suas opiniões e pensamentos, sem freios, filtros ou sem se preocupar com os impactos? O que poderia soar como positivo (“Sou uma pessoa transparente, honesta e verdadeira…”) poderia também se transformar em um grande tiro no pé. Quem fala o que quer, ouve o que não gostaria, reza a sabedoria popular.
Pode-se dizer que o autocontrole virou uma estratégia de sobrevivência nos relacionamentos atuais. Trata-se de um claro sinal de equilíbrio emocional e maturidade, que não nos deixa reféns dos nossos impulsos e variação de sentimentos.
Controlar-se é a garantia de não ser controlado. É ter tamanha consciência de si e da extensão de seus próprios atos, a ponto de não se deixar levar pela balbúrdia externa.
Somos tragados o tempo inteiro pelas necessidades dos outros, apelos ao consumo, decisões de pessoas em nossa volta, rumos da política e economia, pelo humor do patrão e por aí vai… Daí a urgência em exercitar o autocontrole.
Seria perfeito se o autocontrole fosse algo naturalmente aprendido e trabalhado ao longo da vida. Porém, as coisas não funcionam bem assim. Estamos muito mais sujeitos a rompantes de estresse e raiva do que gostaríamos. Por isso, ter autocontrole nos dias de hoje é praticamente ter o mapa da felicidade e paz de espírito.
Mas é importante não confundir autocontrole com o temido “engolir sapos”. Aceitar tudo passivamente, calado, embora com profunda insatisfação, passou longe de ser autocontrole. Há quem confunda ficar de “boca fechada”, mas remoendo por dentro, com a habilidade de ter autocontrole. Para funcionar, o autocontrole precisa ser automatizado em nosso comportamento, como uma resposta natural a tudo que ocorre em volta.
São muitos os caminhos para adquirir autocontrole, e fazemos diferentes descobertas ao longo da vida. Um que se destaca é abandonar a ideia de ter razão a todo custo e querer ser dono da verdade. Controlar o próprio emocional tem a ver com a compreensão de si e do outro em um nível que nos permite relevar tudo o que é externo em função da paz interna. A maioria das batalhas que travamos todos os dias não vale a pena.
Quem tem autocontrole vê a realidade de forma simples, sem projeções emocionais. Preste atenção: um sinal de que estamos afinando esse valioso instrumento é quando extinguimos aqueles velhos fantasmas que rondam a imaginação e nos fazem ver até que o não está acontecendo. Respeitar os próprios limites nos coloca em uma posição privilegiada para não deixar escapar impulsos momentâneos que podem colocar tudo a perder.
Um bom exercício para incorporar o autocontrole é administrar as próprias expectativas. Quanto mais esperamos dos outros, mais tendemos a nos frustrar e perder o domínio sobre nossas emoções. Faz se necessário ajustar o comportamento aos nossos valores. Não adianta pensar de um jeito e agir de outro. Acreditar que procedemos de forma correta, respeitosa e democrática e só um pensamento. Colocar em prática é outra coisa. Acreditar que somos tranquilos, que aceitamos as pessoas e coisas como são é louvável. Fazer isso acontecer é que é o grande desafio.
Quando você controla seus impulsos, pode alcançar muito mais do que imagina. Sentir na medida exata e dar o real peso e valor a cada acontecimento, sem desmerecer ou supervalorizar situações, faz a gente evitar sofrimento, perda de tempo e energia, além de dores futuras.
O mundo pode estar pegando fogo e desabando ao seu lado, mas se você mantiver a calma conseguirá analisar o cenário, perceber as alternativas e tomar as melhores decisões.
Fabiano F. é jornalista e autor de livros de autodesenvolvimento, como o livro “Enfrente”, de onde este texto foi extraído. Email: fabianoescritor@gmail.com