E que a virtude nos salve

Segunda a teologia escolástica, a virtude é uma graça espiritual. Lembro-me de que quando criança, minha avó materna tocava piano, não que fosse talentosa, apenas um indivíduo devidamente educado conforme os padrões da época em que viveu, fazia referencia aos artistas que apreciava como “virtuosos”.

Sem ter acesso a um dicionário – acho que nem sabia o que era um dicionário – na época, até porque acredito era ainda muito pequena, cresci achando que a virtude era algo excepcional. Fico imaginando como agiria minha avó, ao escutar aos padrões e valorização dos músicos e artistas atuais, cantores de pagode, dançarinos de requebrados e rebolados, no lugar do ballet clássico e da opera. Vejo minha neta caçula de 11 anos dançando “o quadradinho”, sem acreditar no que estou vendo. Não posso negar que é até engraçado.

Quadradinho para os que nao sabem, é um tipo de dança sensual – nenhum problema para mim com a sensualidade, a arte é repleta de sensualidade – que consiste em fazer um quadrado imaginário com os quadris, girando-o em quatro lados. Tento ensinar, tento não discriminar, mas fico sem achar as palavras exatas para conversar com ela.

Na verdade, minha filha até tentou, colocando-a em uma escola de música. Beatriz até se apresentou em alguns recitais de final de ano, mas não foi adiante. Ja sem esperanças, minha filha contratou um professor de dança, ou seja um professor de “danças de ruas” para dar aulas em casa e estão evoluindo: pelo menos, fazem algum exercício físico, nessa época de pandemia.

Fico pensando que estamos regredindo culturalmente, mas afinal, o que deve significaria para os jovens, a palavra virtude, já que a virtude faz parte da hierarquia dos anjos. Acredito que arte, cultura e religião caminham juntas, estão interligadas.

Na Jamaica, nos anos 50, os músicos começaram a misturar ritmos caribenhos com o jazz e blues e foi quando surgiram os DJs e posteriormente os MCs, que literalmente falando, são Mestre de Cerimônia, ou seja, pessoas responsáveis por manter as festas animadas. Essas festas são basicamente de funkeiros, rap, hip hop e SKAs, cujas letras musicais falam da indignação social, marginalização e injustiças sociais.

Na verdade, tudo que escuto quando acidentalmente ouço esse tipo de manifestação cultural são as batidas de um tambor em um ritmo contínuo e perturbador. Na minha cabeça, vem a imagem do pesadelo do que seja o inferno, tocando esse ritmo, onde as pessoas não conseguem parar de dançar em um círculo. As festas onde essas músicas são tocadas, aqui no Brasil são chamadas de “paredão” e são patrocinadas por gangs de drogas. Acontecem durante os finais de semana. Normalmente são interditadas pela polícia e o saldo é de mortos, feridos e encarcerados por desordem pública. Acredito que estou precisando me reciclar, para me atualizar e caber no mundo.

Enfim, dito isso, não posso antever o nosso futuro como civilização.  Penso que estamos “involuindo” ao invés de evoluindo. Penso em Sodoma e Gomorra, em Pompéia, Atlantida, Helike e a lista segue, com o nome de “10 cidades perdidas que emergiram do passado”. E assim caminha a humanidade… O problema é com a vulgaridade. E que a virtude nos salve!

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