Brasileiras, finalmente, disputam o poder político em Massachusetts

Heloísa Galvão

As eleições municipais deste ano em Massachusetts têm uma surpresa agradável para nós brasileiras. Três mulheres e um homem concorrem a cargos eletivos. Duas brasileiras e um brasileiro em Framingham, e outra em Everett. Quem diria! Estamos em 2017, quantos anos depois do início da vinda em massa dos brasileiros para a região de Boston? Quantos anos nós precisamos para chegar aqui, uns 30?

Quando eu cheguei, final dos anos 80, acho que não tinha claro em minha mente que chegaríamos a isso, mas à medida que a gente vai vivendo aqui, se envolvendo com a comunidade, com as coisas da cidade, do estado, da municipalidade, cada vez tem mais firme na mente a necessidade da se envolver. Não tem outro jeito da gente melhorar as condições de vida do nosso povo e da nossa família, se não pelo engajamento cívico, comunitário, para não dizer político, porque se não sabemos o que está se passando, não participamos, ficamos à margem da sociedade e não somos coadjuvantes ativas do processo de formação dessa sociedade.

O ex-presidente Kennedy dizia que deixara o jornalismo para entrar na política porque não queria simplesmente relatar o que estava acontecendo, ele queria participar dos fatos, ser um ator importante dentro dos acontecimentos. Eu sou jornalista e me sinto dentro dos acontecimentos porque na hora em que eu vou narrar o que se passa, preciso estar informada e saber o que se passa, senão não serei uma boa jornalista, nem saberei transmitir de forma transparente o que acontece.

Quem são os quatro candidatos  que oncorrem às eleições de novembro próximo? Comecemos em Framingham, onde temos uma comunidade grande. Primeiro, o único homem, Pablo Maia, está concorrendo a vereador municipal, em inglês chama-se City Councilor-at-Large. Por quê? Porque ele precisa dos votos de todos os residentes da cidade para ser eleito. Quem não conhece o Pablo em Framingham, e fora de Framingham? Pablo mora aqui há muitos anos, é bastante atuante no cenário brasileiro e no cenário municipal e estadual, Pablo foi um agente ativo na candidatura do ex-governador Deval Patrick, do Presidente Obama, é corretor imobiliário, tem negócios na cidade.

Outra candidata é Margareth Shepard, também extremamente conhecida na comunidade, uma líder comunitária, que tem se sobressaído nos últimos quatro ou cinco anos. Margareth também mora aqui nos Estados Unidos há muitos anos, é housecleaner, participa da igreja São Tarcísio e do Centro Bom Samaritano. O pai dela, seu Manoel, conhecidíssimo, trabalhou anos no Bom Samaritano. Ela é candidata a vereadora distrital, em inglês City Councilor, por que ela vai representar apenas o distrito onde  mora.

A terceira candidata de Framingham é Priscila Souza, à Prefeita. Maravilha, vocês já imaginaram termos uma prefeita brasileira em Framingham? Priscila é secretária legal em um escritório de advocacia e resolveu se candidatar porque quer desempenhar esse papel de representante não só da comunidade brasileira como de todas as comunidades.

A quarta candidata, Stephanie Martins, corre para uma vaga na Câmara Municipal de Everett, que em seus 125 anos como cidade já elegeu 642 homens brancos, mas somente três homens latinos, um negro e 17 mulheres. Isso em um reduto de imigrantes, 41% da população de Everett nasceu fora dos Estados Unidos. Stephanie quer ser a 18ª mulher e a primeira brasileira, latina e de cor. Ela representa não só a comunidade brasileira mas essa liderança imigrante, a liderança comunitária jovem. “Nós somos o fruto do trabalho que vocês têm feito todos esses anos”, ela me disse.

Olha gente, as eleições primárias (considerada primeiro turno) são dia 26 de setembro, e eu espero que os quatro cheguem às eleições em novembro (eleições gerais). O Grupo Mulher Brasileira vai fazer um debate com as três mulheres no dia 28 de agosto e quem vai facilitar a conversa é a embaixadora Glivânia de Oliveira, outra mulher em uma profissão tradicionalmente machista e masculina. O índice de mulheres na carreira diplomática brasileira é de cerca de 20%.

Eu vou dizer uma coisa para vocês, quisera eu morar em Everett e em Framingham para votar nestas brasileiras e no Pablo. De longe dou-lhes um voto de confiança e realmente desejo que sejam eleitas. E digo mais ainda, mesmo que estas quatro pessoas não me representem 100%, no sentido de que talvez eu não concorde com tudo que pensam e falem, eu votaria em todos. Sabe por quê? Porque eu quero ver estes quatro e muitos outros brasileiros que virão em próximas eleições exercendo cargos políticos, quero ter o prazer de bater na porta do gabinete deles e dizer “não votei em você porque não moro na sua área, mas você me representa porque sou brasileira como você e eu vim aqui para cobrar”.

Você que mora em Everett, você que mora em Framingham, você que pode votar, é privilegiado. Não deixe passar esta oportunidade, dia 26 de setembro saia de casa para votar nestes candidatos brasileiros. E, em novembro, faça a mesma coisa.

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