O que passamos agora não é diferente

2017 vai entrar para a história como o ano mais imprevisível das últimas décadas. Por mais chocadas que estivéssemos em janeiro de 2017, nada poderia nos dar a medida do que realmente foram os 12 meses que estão fechando agora com acontecimentos extraordinários que ninguém poderia prever.

O ano começou com a marcha da Posse do Povo e termina com o Dia Nacional de Ação que levou 250 pessoas a praticarem desobediência civil nas escadarias do Capitólio. A maior manifestação de desobediência civil dos últimos tempos.

Mas dentro do congresso nacional americano “business is as usual”, nada sensibiliza os republicanos que continuam votando projetos que só beneficiam 1% da população e apoiando um Presidente que internacionalmente é um embaraço e domesticamente um desequilibrado xenófobo.

Quem diria que 2017 seria o cenário para a maior movimento de denúncia contra o abuso sexual? Esse é um fator positivo que nós mulheres temos de contar como uma batalha quase vencida. Milhares de mulheres continuam denunciando todos os dias e dando o nome dos seus abusadores, sejam políticos, artistas, CEOs, jornalistas, colegas de trabalho.

A campanha empodera muitas vítimas, inclusive alguns homens, que até então se sentiam isoladas, envergonhadas, sem apoio. A vida dos abusadores, homens que se consideravam tão poderosos e intocáveis que não temiam cometer atos abomináveis deu uma quinada de 180 graus. A campanha #metoo provou que ninquém está imune de ser desmascarado quando a vítima denuncia.

A grande questão que vai entrar em 2018 é: como um país que se considera a maior potência do mundo e que se julga modelo para o resto do mundo pode justificar manter no poder um Presidente acusado por várias mulheres de abuso sexual e que em video confirma gostar de apalpar as partes sexuais femininas? Como este país justificaria para o mundo e para as gerações jovens, que estão se formando, a eleição de um pedofilista para o Senado Federal? Como esse país vai justificar para o mundo que deixou centenas de pessoas morreram em Puerto Rico por falta de assistência?

Como nós podemos explicar para nossos filhos, nossos adolescentes e crianças a falta de moral e humanidade que tomou o poder em janeiro de 2017? A história prova que momentos tão difíceis como estes existiram antes e foram vencidos pelo povo, com a luta do povo, com o sacrifício de muitos. O que passamos agora não é diferente e só poderá mudar com a participação do povo. O poder está nas mãos do povo e a vitória acontecerá quando todas nós exercermos este poder juntas.