MEU CORAÇÃO IMIGROU

Manoela Maia McGovern

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Morar fora do país era um sonho de criança, aliás, a realização desse sonho é que me alimenta no desafio de criar os filhos no exterior. Definitivamente não é fácil ficar longe da família. Nos privamos da convivência com os primos, do colo e do carinho dos avós, e até daquela ajudinha de algum parente que fica com as crianças quando a gente adoece, ou surge uma festa ou uma reunião de pais e mestres na escola. Nova York é sem dúvida uma cidade incrível, mesmo tendo a má fama de ser uma cidade fria e de pedra. Existe gente do mundo todo, todas as raças, culturas e costumes. Como dizem por aí: não existe nenhuma cidade como Nova York. Aqui, todos são bem-vindos. E é nisso que a gente se apega, no lado bom da história. Ser mãe sempre foi uma prioridade para mim, talvez por isso que eu valorize tanto o fato de morar em um país de primeiro mundo podendo dar a eles uma educação de qualidade. Certamente aqui as vantagens têm um peso bem maior na balança da vida e entre trancos e barrancos, eu vou remando o barco com a ajuda da maré e do tio Sam, sendo feliz na cidade que escolhi para viver e criar os meus filhos. Tão diferente do lugar onde nasci.

Sou de Maceió. Uma cidade pequena, mas extremamente aconchegante e com algumas das praias mais lindas do litoral brasileiro. Arrisco dizer, do mundo! São quilômetros de águas mornas e com um verde azulado incrível. Aquele mar cristalino que é capaz até de lavar a nossa alma. Até hoje as pessoas me perguntam como foi que eu consegui sair daquele paraíso. Principalmente porque não vim direto para Nova York, morei dois anos em São Paulo antes de vir para cá. Confesso que a poluição e o calor Paulistano me lembravam todos os dias como era bom morar à beira-mar. Apesar de todos esses encantos, chegou um ponto emque Maceió foi ficando pequena para mim e eu queria mais. No fundo eu até acho que a minha mãe sabia que o meu sonho de adolescente não ficaria apenas guardado dentro de um diário. Ela suspeitava de que um dia eu iria morar fora do Brasil. Em Janeiro de 2008 esse dia finalmente chegou e eu desembarquei no aeroporto John F. Kennedy em busca não só de viver o meu sonho, mas em criar memórias, adquirir experiências culturais nunca vividas, e ter um crescimento pessoal e profissional.

Meu inglês foi se aperfeiçoando rapidamente a medida em que eu ia fazendo novos amigos e conhecendo novos lugares. Desbravar a cidade de Nova York é exatamente como a gente imagina ao assistir os filmes e seriados que são gravados por aqui. É de tirar o folêgo. Mesmo morrendo de saudades das pessoas e do paraíso que é a minha terra natal, eu fui me apaixonando e fui ficando. O que seria só uma temporada para melhorar o meu inglês e ter experiências profissionais adicionadas no currículo, acabou virando um capítulo “para sempre” na minha história. Os meses foram passando e outras prioridades foram chegando, e em 2010 nascia o meu primeiro filho. Daniel veio para me mostrar que tudo que eu conhecia até o momento não tinha mais tanta importância. A minha vida virou do avesso, mas com o coração cheio de alegria que parecia até que ia explodir de tanto amor. Escolher o tipo de parto e planejar tudo, foi fácil. Lidar com a expectativa de saber o sexo, as noites mal dormidas e o peso da barriga também. Nada disso se compara a certeza de que se tornar mãe em outro país, longe da família, é o que mais mexeu com o meu coração. O coração de uma imigrante que apesar obstinada por viver em um país com melhor qualidade de vida e segurança, era muito apegada às raízes e ao país onde nasceu e viveu durante muitos anos. Desejei tanto alguém da minha família para estar ali comigo na hora do parto, no pós parto, para ir comigo às consultas do pediatra, e até para enrolar brigadeiro na véspera das festas de aniversário que eu faço para os meus filhos eu sinto falta. Foi duro não ter a minha mãe, irmãos, e as melhores amigas por perto. Apesar da tecnologia encurtar a distância, com certeza não substitui o carinho e a presença de quem amamos. A maior parte da família do pai dos meus filhos mora aqui em Nova York, mas tenho que admitir que não é a mesma coisa! Nessas horas você quer comer aquela comida típica que só a sua avó sabe fazer, quer conversar em português, quer o calor do brasileiro, você quer a SUA família por perto ajudando, visitando e curtindo o novo membro da família junto com você.

Eu não sabia o quão forte eu era até precisar ser forte. A maternidade nos deixa fragilizadas e, morando no exterior essa fragilidade só aumenta. Aprender a me virar sozinha era não apenas uma obrigação, mas também uma necessidade. Fui ficando mais descolada, prática e acho que posso dizer: casca grossa. Nos Estados Unidos as mães fazem tudo praticamente sozinhas, o que acaba nos tornando mais fortes quando precisamos tomar decisões e assumir a responsabilidade por elas. A gente vai se adaptando mesmo sem ninguém mais próximo para dividir experiências ou nos orientar sobre a vida. Passado o período mais crítico, e o vazio foi sendo preenchido pelas tarefas relacionadas à maternidade. Eu mergulhei de cabeça e investi toda a minha energia para fazer valer o título de mãe dado à mim. Eu me sentia abençoada e agradecia todos os dias por ter um bebê tão bonzinho. Ele foi crescendo e eu aprendendo um monte de coisas novas junto com ele. A gente sofre, mas se apega nas coisas boas para seguir em frente. Até que os parentes e amigos começaram a chegar um atrás do outro para me visitar e conhecer o meu Dan. O amor foi sendo reabastecido, a visitas ao Brasil foram ficando mais constantes e eu fui aprendendo a lidar com as saudades. Ainda é complicado me despedir da família quando eu vou ou quando eles vem aqui, mas a gente vai se acostumando com a distância apesar de nunca se conformar com ela. Você que também mora longe da família, me conta nos comentários como você lida com a saudade?

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